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Autor: Ethos Animal

Somos uma empresa pioneira no mercado de Comportamento e Bem-Estar Animal aplicado no Brasil, atuantes desde 2004. Priorizamos a ética na condução dos procedimentos, sempre com embasamento científico atualizado. Atendimentos personalizados de acordo com cada caso em particular. A ETHOS ANIMAL é dirigida pela Bióloga Especialista em Comportamento Animal, Helena Truksa.

alimentação afetiva e obesidade em cães e gatos

Alimentação afetiva e obesidade em cães e gatos

Atualmente, 59% dos cães e 52% dos gatos em todo o mundo estão acima do peso e esses números podem ser explicados pelas novas relações entre os donos e seus pets. Uma pesquisa internacional realizada com tutores de animais de estimação do Brasil, China, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, mostrou que 59% dos tutores de cães e gatos disseram que se sentem recompensados ao alimentar seu animal de estimação e 77% disseram que seu animal fica feliz quando oferecem alimento a ele. Esses resultados foram apresentados durante o Congresso ROYAL CANIN® sobre Controle de Peso, que ocorreu no Reino Unido no início deste ano.

Para o médico-veterinário e professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp Jaboticabal, Dr. Aulus Carciofi, o crescimento da obesidade nos pets pode ser explicado por uma combinação de fatores: mudança de ambiente, castração e a humanização dos pets. “Hoje, os cães e gatos ficam em casa, eles não se exercitam como faziam há 20 anos, não o mesmo que fazem hoje, com um passeio. A castração também pode ocasionar a obesidade, apesar dos benefícios que traz, e tudo isso ainda é somado com a humanização, que é tratar os pets como membros da família. A comida possui uma relação afetiva com o ser humano, por isso achamos que estamos demonstrando amor ao ceder mais um petisco”, explica Carciofi.

Apesar dos números altos de obesidade, a pesquisa aponta que apenas 24% dos tutores de cães descrevem seu animal de estimação com excesso de peso. Um dos motivos dessa desproporciabilidade pode ser a falta de acompanhamento do médico-veterinário na dieta e orientação aos tutores. Apesar de muitos não acharem que o pet está acima do peso, 64% indicaram que , atualmente, enxergam pelo menos um sinal de excesso de peso como, por exemplo, não ser possível sentir as costelas ou ter afrouxado a coleira. Esses sinais precisam ser captados pelo veterinário para a percepção do problema e indicação de soluções.

“A detecção dos problemas com o peso varia muito de um médico para o outro, nem sempre o pet é diagnosticado, por isso é importante que seja feita a orientação para a especialidade de nutrição, tanto para tratamento, quanto para prevenção”, ressalta o professor. O médico também reforça as doenças que a obesidade pode trazer aos pets. Segundo ele, cães podem desenvolver problemas de pele, problemas respiratórios e articulares, resultando em uma diminuição da expectativa de vida de até 15% ou dois anos. Para os gatos, o problema é ainda mais sério, pois os felinos possuem quatro vezes mais chances de desenvolver doenças articulares e diabetes.

Um dado muito importante é que 67% dos tutores de cães e gatos gostariam que seu médico-veterinário falasse mais sobre o peso do animal e 82% gostariam de receber orientações mais claras sobre peso ideal e conselhos para mantê-los aptos e saudáveis. A orientação é muito importante, já que, de acordo com a mesma pesquisa, 61% dos entrevistados desconheciam que os animais com excesso de peso podem ser suscetíveis a diabetes e doenças ortopédicas e, consequentemente, a redução da qualidade de vida.

Carciofi complementa: “existem muitos tipos de alimentos funcionais, como rações de baixa energia, que é a mais adequada aos animais que ficam em casa. As mais indicadas são as que possuem gordura abaixo de 10% e 5% a 6% de fibra, mas ainda assim não pode ser dada à vontade. A ida ao veterinário será importante para que ele avalie o score de condição corporal do pet e indique fortemente a prática de exercícios, alcançando assim o equilíbrio”.

A médica-veterinária, Dra. Luciana Peruca, também indica a importância da orientação aos tutores, pelos médicos, de observar as quantidades corretas de alimentos descritas nas embalagens. “O ideal é obedecer essa quantia e evitar a todo custo as porções extras, ainda que o animal manifeste apetite. A balança portátil ou potes com medida são formas segura e precisas de se medir a quantidade de alimento para ingestão diária”, explica.

“O pet obeso não deve ser visto como um ‘animal saudável e fofinho’, pelo contrário, um pet obeso pode ser considerado um animal doente. As principais consequências dessa anormalidade são problemas articulares, câncer, hipertensão, diabetes, problemas renais, dermatológicos entre outros não menos importantes”, conclui Luciana.

Todas essas tendências de saúde e nutrição animal serão abordadas durante o Congresso Internacional PET South America, que acontece de 21 a 23 de agosto, no São Paulo Expo, paralelamente a exposição de tecnologia e equipamentos veterinários na PET VET.

 

Artigo realizado por: Comunicação PET South America
Bem-Estar para Animais de Produção

Vacas ganham escovas para se coçar: Bem-Estar para animais de produção

Vacas ganham escovas giratórias: Alguns pesquisadores acham que as escovas mecânicas não são apenas uma futilidade de SPA para vacas leiteiras – eles são importantes para o bem-estar do animal.

Vacas, como cães e pessoas, gostam de uma boa “coçada”. Em liberdade, eles esfregam seus corpos contra postes ou árvores para remover parasitas ou ficarem limpos. Alguns fazem tanto, que eles podem quebrar torres de transmissão de rádio se você não cercá-las.

Mas muitas vacas leiteiras nos Estados Unidos nunca vão pastar. E mesmo quando o fazem, as vacas podem passar invernos amarradas em um celeiro. Então, se uma vaca tem uma coceira para coçar, o que ela pode fazer?

Em muitos locais, nada.

Mas em alguns lugares, há a escova mecânica.

Este aparelho, giratório e motorizado liga quando uma vaca o toca, permitindo que o animal alcance lugares do corpo que ele não poderia alcançar. Em média, as vacas passam sete minutos por dia esfregando suas cabeças, pescoços e costas nesses volumosos protetores corporais. E alguns pesquisadores acham que essas escovas mecânicas não são apenas uma futilidade de spa para vacas leiteiras – elas são importantes para o bem-estar do animal.

“Não temos idéia de como as vacas pensam”, disse Marina von Keyserlingk, que estuda bem-estar animal na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. “Mas o que sabemos é que elas estão altamente motivadas para se escovar. E o que acontece se não puderem?

Testando a vontade dos animais de trabalhar para ter acesso a ração fresca, escovas mecânicas e espaço vazio, a Dra. Von Keyserlingk e sua equipe treinaram vacas leiteiras prenhes, saudáveis ​​e cobertas para abrir um portão pesado. Olhando para o peso que eles estavam dispostos a empurrar antes de desistir, os pesquisadores tiveram uma ideia da importância relativa de cada recurso para as vacas.

Os pesquisadores suspeitaram que a escova viria em segundo lugar para as vacas famintas. Mas as vacas trabalhavam tão duro para a escova quanto comida fresca. Seus resultados, publicados na edição de quarta-feira da revista “Biology Letters”, sugerem que uma vaca pode precisar de escovas mecânicas para se alojar dentro de casa e que os produtores de leite deveriam considerar tê-las em seus celeiros.

As escovas podem beneficiar os agricultores, impedindo as vacas de destruírem superfícies dentro de celeiros e agradando aos consumidores que, cada vez mais, querem saber que os animais são saudáveis ​​e, mais importante, felizes.

Bem-Estar para Animais de Produção
Créditos: Benjamin Lecorps/UBC Animal Welfare Program

Para as vacas, o uso de escovas mecânicas pode afastar os surtos de parasitas, coçar e remover a pele morta. Mas a preparação também ajuda muitas espécies – talvez incluindo vacas – a lidar com o estresse.

“A maneira como vejo uma vaca se movendo sob essa escova vai muito além de aliviar essa coceira”, disse Temple Grandin, pesquisadora da Colorado State University, conhecida por seu trabalho sobre comportamento e bem-estar de animais de fazenda e que não esteve envolvida no estudo.

Os animais têm emoções, talvez não tão complexas, mas semelhantes aos humanos, ela disse (embora a natureza dessas emoções seja um tema atual entre os behavioristas de animais). Eles têm o mesmo sistema nervoso básico e os mesmos neurotransmissores em partes emocionais do cérebro.

“O que eles não têm é um córtex gigantesco que pode fazer coisas como voar até a lua ou construir aquele computador super complexo que você está usando agora”, disse a Dra. Grandin. “Eu vou dizer que a vaca leiteira gosta disso. É como ir ao spa.

Mas a Dra. Grandin e a Dra. Von Keyserlingk acham que, porque as vacas estão tão determinadas a chegar à escova, a limpeza pode ser mais parecida com a necessidade que temos de aparar nossas unhas.

Escovas mecânicas são necessárias na Dinamarca, mas não nos Estados Unidos ou no Canadá. E pode demorar um pouco até vermos mais delas, disse a Dra. von Keyserlingk, porque os estados e as províncias governam os cuidados com os animais nos Estados Unidos e no Canadá. Eles também são caros e de alta manutenção.

Em vez disso, a indústria e os consumidores podem impulsionar a demanda por escovas de gado.

“Se conseguirmos que a indústria assuma o controle e possa adaptar essas práticas recomendadas, elas serão muito mais ágeis do que a legislação”, de acordo com a Dra. von Keyserlingk.

No final, ela disse, “a ciência só pode nos dizer quais são as opções. Não pode nos dizer o que devemos fazer. ”

 

Fonte: The New York Times – 08/08/2018 – Science – por JoAnna Klein

Holanda proíbe uso de colar de garras

Na Holanda, o uso do chamado colar de garras foi proibido desde 1º de julho de 2018.

De acordo com a lei sobre o bem-estar animal, considera-se agora um ato de crueldade contra animais “usar ou amarrar um animal com um objeto com pontas afiadas ou dentes que possam causar dor”.

O uso de e-collars (colar eletrônico) continua a ser permitido no momento, mas será regulado em um momento posterior.

Veja texto traduzido do original em holandês e publicado em 02 de Julho de 2018, no site LICG.nl:

 

“A partir de 1 de julho de 2018, o colar de garras está proibido.

Uma importante lei que visa garantir a saúde e o bem-estar dos animais é a chamada ‘Animals Act’. A Lei Animal afirma que é proibido maltratar animais ou negligenciar animais.

Artigo 2.1 O Direito Animal estabelece a proibição da crueldade contra os animais e o Artigo 1.3 do Decreto dos Proprietários de Animais, que está ligado à Lei dos Animais, contém uma série de comportamentos concretos que devem ser rotulados como crueldade contra os animais. Por exemplo, é proibido abandonar, bater ou chutar um animal.

Em 1 de julho, foi acrescentado que o uso de ou a ligação ou alinhamento de um animal com um objeto com o qual o animal pode ser infligido dor por meio de saliências afiadas é proibido. Isso inclui as chamadas “tiras de punção”, colares com pontas afiadas, principalmente de metal ou plástico, destinadas a perfurar o pescoço de um animal. Formas de “coleiras anti-puxão” que funcionam dessa maneira também foram banidas.”

fontes:
https://www.fecava.org/en/newsroom/news/news-cat/the-netherlands-prohibits-prong-collars.htm
https://www.licg.nl/nieuws/per-1-juli-gebruik-prikband-verboden/

 

caes-pequenos-fazem-xixi-mais-alto-para-mentir-sobre-seu-tamanho-diz-estudo-comportamento-animal-ethos

Cães pequenos fazem xixi mais alto para mentir sobre seu tamanho, diz estudo

Você simplesmente não pode confiar em um cachorrinho?

Nós todos sabemos que os cães podem se comunicar através do perfume. Eles urinam em novas áreas, em sua própria casa, e certamente em coisas que outros cães fizeram xixi. Também sabemos que alguns machos levantam as pernas para fazer xixi mais alto. Mas uma nova pesquisa descobriu que cães menores levantam as pernas em um ângulo ainda maior do que os cães maiores, talvez para parecerem maiores.

“Nossas descobertas … fornecem evidências adicionais de que a marcação de cheiro pode ser desonesta”, disseram os autores no estudo publicado recentemente no Journal of Zoology.

Os pesquisadores da Universidade de Cornell primeiro estabeleceram que o ângulo em que um cão levantou a perna é um bom substituto para a altura do xixi. Eles pegaram um monte de cães de abrigo para passear e os filmaram fazendo xixi com um iPhone e, em alguns casos, com uma câmera de alta velocidade. E sim, com base em sua análise, o quão alto o cão levantou a perna poderia prever o quão alto seria o xixi, assim como a massa e a altura do cão.

Cães pequenos mentem seu tamanho fazendo xixi no alto
Fonte: Google

Em seguida, eles analisaram o tamanho de um cachorro em comparação com o quanto ele levantou a perna. Ambos os cães, mais leves e mais baixos, erguiam as pernas em ângulos mais altos do que os cães maiores. Os cachorrinhos pareciam estar tentando deixar uma assinatura de xixi de um cachorro maior. Do estudo:

Assim, mesmo que a altura da marca de urina reflita em parte o tamanho do sinalizador, os cães pequenos parecem “trapacear” usando ângulos maiores de perna elevada para depositar marcas de urina mais altas, exagerando assim seu tamanho.

Os pesquisadores escrevem que pode ser benéfico para os cães “exagerar seu tamanho corporal e habilidades competitivas” para evitar conflitos com outros cães. O estudo também contribui para um crescente corpo de pesquisas que sustentam que cães menores e cães maiores se comportam de maneira diferente. Os pesquisadores apontam que o estudo tem seus limites e outras possíveis interpretações. Talvez cães grandes não possam levantar as pernas tão alto quanto cães pequenos, por exemplo. E seria uma pesquisa futura determinar como os cães reagem às diferentes alturas das marcas de cheiro. Mas eles apontam que outros viram exemplos de “sinalização desonesta” em outras espécies, como o mangusto-anão, em que marcas de cheiro aparecem em locais inesperados, dado o tamanho do animal. Então da próxima vez que você ver um cachorrinho fazer xixi, pergunte a ele: o que você está tentando provar?

 

[Gizmodo – Journal of Zoology via New Scientist]
Como os cães pensam Kelp redes neurais Ethos Animal comportamento

Como os cães pensam? Rede neural treinada através do comportamento canino

Pesquisadores treinam inteligência artificial com o comportamento canino para melhor entender como pensam.

Pesquisadores da Universidade de Washington e do Allen Institute treinaram redes neurais para tentar compreender o comportamento dos cães. Na experiência, foram utilizadas filmagens e capturas de movimento de um cão de raça Malamute do Alaska, utilizando uma câmara GoPro montada na sua cabeça e sensores de movimento ligados às suas penas e corpo. Ao todo foram capturados cerca de 380 vídeos das atividades do quotidiano da cadela Kelp, enquanto passeava e brincava.

Os pesquisadores utilizaram a informação capturada para alimentar a inteligência artificial através de deep learning. Através desta técnica foi possível cruzar a informação dos sensores dos membros da cadela com as filmagens do que estava a observar, levando a máquina a antecipar como o animal reagiria em determinadas situações.

Como exemplo, se fosse arremessada uma bola, a IA saberia que a cadela iria persegui-la. Para além disso, outros comportamentos demonstrados através de inteligência visual foram anotados, como o reconhecimento de comida, os obstáculos e reações a outros animais e humanos.

Após treinar a rede neural com o comportamento do cão, os pesquisadores testaram a IA para perceber se o computador aprendeu alguma coisa sobre o mundo que não fosse explicitamente programado. Foram feitos dois testes à rede: um deles para identificar diferentes cenários, tais como interiores, exteriores, escadas, etc., e o outro, os locais que a cadela poderia percorrer.

A rede respondeu com grande precisão através da informação anteriormente recolhida, prevendo como a cadela se movia nos vários cenários e como decidia mudar de um estado de comportamento para outro. Foi assim demonstrado como a IA aprendeu com o comportamento da cadela para generalizar outras tarefas.

Através deste sistema em que a rede neural foi alimentada com imagens diretas de vídeo e informações geradas pelos sensores de movimentos, os investigadores afirmam que a IA aprendeu sem a necessidade de introduzir informações manuais ou descrições detalhadas previamente sobre o comportamento do animal.

O estudo concluiu que será possível estender a experiência a outros agentes e cenários. Além disso, a investigação centrou-se apenas na informação visual, ficando de fora outros canais de interação com o mundo, tais como o som, o toque e o cheiro.

 

Fonte: SapoTek
luto pela perda morte de um animal de estimação ethos animal

O luto por animais de estimação é uma realidade. E existe acompanhamento especializado

A ligação que desenvolvemos com os animais de companhia é diferente daquela que temos uns com os outros, mas não deixa de ser uma relação forte e de amizade. É por isso que, no momento da perda do animal e quando a saudade é mais difícil de digerir, faz sentido falar em acompanhamento.

A confissão de Barbra Streisand mostrou que a clonagem é um tema controverso. Mas o debate não se pode cingir ao processo em si: deve ser mais alargado e debruçar-se sobre as motivações que levam o dono de um animal falecido ou a sofrer de uma doença terminal a decidir cloná-lo. E, entre as razões, pode estar o sofrimento e a saudade do animal perdido.

Mas essa pode não ser a melhor solução: os donos estão à espera de um animal com a personalidade daquele que tiveram e o mais provável é que o animal não seja o que esperam. “No meu trabalho, acabo por me aperceber de experiências de famílias que estão a lidar com um segundo animal e que os problemas surgem de não se adaptarem à realidade de terem um animal diferente e tratarem o animal da mesma forma que tratavam do outro”, diz Rita Jacobetty, consultora de comportamento e bem-estar animal. Ainda que esta experiência não seja relativa a animais clonados, é também válida para esse contexto.

Como o veterinário do Centro Para o Conhecimento Animal (CPCA) Gonçalo da Graça Pereira descreve, “cada vez mais os animais de companhia fazem parte da família e do núcleo familiar. Cada vez mais falamos de uma família multiespécie, em que a mãe tira um dia de férias para ir com os filhos ao pediatra e com o cão e o gato ao veterinário”. É por isso que, como continua o veterinário especialista europeu em medicina do comportamento, faz sentido falar e reconhecer que nós, seres humanos – cada um com intensidades diferentes, tal como acontece quando é um ente querido que morre –, passamos por um processo de luto pelo animal que vivia connosco.

Até porque, como explica Tânia Dinis, psicoterapeuta que trabalha com processos de luto, entre os quais luto animal, a relação com um animal de companhia é um tipo de relação “muito próxima, que não tem ambivalências, sem as zangas que existem entre as pessoas e normalmente com um lado muito afetuoso”. A psicoterapeuta, que integra a equipa do CPCA, frisa ainda que, “de facto, os animais fazem muita companhia e são uma presença que está ali sempre – à exceção de sofrerem de alguma doença ou de terem algum acidente, não se vão embora”. Essa é uma certeza que, como assinala, nem sempre existe entre as pessoas. Entre nós, nessa perspetiva, criam-se relações mais inseguras.

O acompanhamento Não são poucas as pessoas que procuram apoio ao luto no momento em que perdem um animal de companhia, diz Tânia Dinis. E se algumas recuperam em meia dúzia de sessões, outras precisam de acompanhamento durante dois anos. E no que se baseia esse apoio? “Varia de situação para situação, mas há elementos mais ou menos constantes, como o organizar as memórias, ou seja, perceber qual foi o papel do animal na vida da pessoa – o que fica, o que deixa, o que pode ser lembrado”, explica a psicoterapeuta. É normal e inevitável, inicialmente, que a pessoa se sinta triste, “mas o que importa no contexto do acompanhamento é garantir que essa tristeza não é destrutiva”.

Algumas estratégias passam por levar a pessoa a procurar o apoio e o afeto das outras à sua volta. Nos casos em que a pessoa não tem essa possibilidade, é importante mostrar-lhe como pode criar ligações – ter outro animal ou arranjar amigos.

“O meu trabalho passa por ajudar a processar os sentimentos, perceber a função do animal para a pessoa e ajudar a pessoa a reorganizar a sua vida para voltar a construir redes emocionais e não se isolar”, explica Tânia Dinis.

Quando há crianças na família, a intervenção da profissional passa por explicar aos adultos da casa como devem lidar com as crianças no dia-a-dia, depois da perda, e o que lhes devem dizer. “A ideia é valorizar sempre o animal e recordar o lado positivo da experiência que se viveu com ele”, diz Tânia. A psicoterapeuta deixa um alerta: “Por exemplo, dizer à criança que o animal simplesmente desapareceu de casa é péssimo para os miúdos. É um susto e leva-as a questionar se pessoas, animais e as coisas de que gostam podem simplesmente desaparecer. Muitas vezes estamos a tentar protegê-las da tristeza, como se isso fosse possível, mas não é. Há coisas das quais não podemos protegê-las.”

Aqui no Brasil também é possível encontrar apoio e acompanhamento especializado em Luto pela perda ou morte de animais de estimação. Fale conosco para saber mais. Podemos ajudar.

atendimento@ethosanimal.com.br

Arranjar um novo animal logo a seguir à morte do anterior pode não ser, em todos os casos, a estratégia certa. “Se o animal era tão importante, a família precisa de um intervalo para sentir saudades dele, para fazer uma separação. Depois, quando a tristeza já não for tão grande e a família não sentir uma necessidade de substituição, para encher um vazio, pode então pensar em ter um animal pela mesma razão pela qual teve o anterior – porque acha que a família fica mais completa com um animal de companhia”, declara.

Vergonha social Da parte daqueles que não têm animais de companhia, existe alguma dificuldade em compreender o sentimento de perda e o sofrimento inerentes à morte de um animal. Há, por isso, uma certa censura da parte da sociedade em relação a isso – o que resulta num sentimento de vergonha da parte das pessoas que perderam o animal e que acabam por sofrer em silêncio.

Os especialistas com quem falamos dizem sentir isso no quotidiano da profissão. Gonçalo da Graça Pereira traça o problema. “Não é socialmente bem aceite que as pessoas sofram pela perda do seu animal. ‘Era só um cão, era só um gato’, ouvimos. E então acaba por ser um luto escondido, silenciado e silencioso. As pessoas não podem tirar um dia porque lhes morreu um animal”, nota. O veterinário defende que as pessoas deviam ter direito a tirar um ou dois dias, tal como acontece quando perdem um familiar. “Acho que há situações até de crianças que não deveriam ir à escola naquele dia porque os colegas que não têm animais não vão entendê-las, é um sofrimento demasiado profundo para elas. Devia ser um motivo de justificação de falta para a escola e para o trabalho”, afirma. “Felizmente, a sociedade está a mudar e cada vez é mais bem aceite que possamos sofrer pela perda do nosso animal”, remata.

Tânia Dinis acrescenta que uma das especificidades deste tipo de acompanhamento é precisamente “o facto de as pessoas à volta não entenderem o peso que pode ter esta perda. Enquanto em relação à perda de pessoas quase toda a gente tem um perspetiva semelhante, em relação à perda de animais não é assim. Mas é certo que, para as pessoas que têm uma ligação forte com os seus animais, a perda é enorme”.

Você tem dúvidas ou gostaria de saber mais sobre os Serviços e Cursos oferecidos pela Ethos Animal? Entre em contato através do e-mail atendimento@ethosanimal.com.br. Certamente poderemos ajudar a melhorar ou restabelecer o equilíbrio emocional no relacionamento com seu(s) pet(s).

Fonte: sol.sapo.pt | beatriz dias coelho

 

cães mordem mais as pessoas ansiosas

Pesquisa científica demonstra que cães mordem mais as pessoas ansiosas

Pesquisa científica demonstra que cães mordem mais as pessoas ansiosas

Se você já ficou nervoso perto de um cachorro e te disseram para ficar calmo porque cachorros conseguem “sentir cheiro de medo”, você sabe que esse conselho é tão útil quanto falar para uma pessoa nervosa relaxar. O sentimento por trás dessa orientação, no entanto, parece estar enraizado em certa verdade: embora cachorros provavelmente não possam cheirar medo, eles parecem, sim, responder a pessoas temerosas com maior agressividade. Um novo estudo publicado na quinta-feira (1), na BMJ, descobriu que pessoas ansiosas ou neuróticas estão mais propensas a serem mordidas por cães. Além disso, os pesquisadores descobriram que a maioria das vítimas foi mordida por cachorros que não conhecia.

Pesquisadores da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, conduziram uma pesquisa com mais de 1.200 lares na cidade de Cheshire, na Inglaterra. Junto com a avaliação de personalidade padrão, eles perguntaram aos entrevistados se já haviam sido mordidos por um cachorro em sua vida; se isso havia levado a algum tipo de tratamento médico; e se eles conheciam o animal em questão.

Das mais de 600 pessoas que responderam, pouco menos de um quarto disse que havia sido mordido. Dessas mordidas (301 no total), um terço exigiu algum grau de tratamento médico, enquanto só uma mordida levou a uma internação no hospital. Os homens eram duas vezes mais propensos a reportar uma mordida do que as mulheres, e donos de cachorro tinham três vezes mais probabilidade. Mas pouco mais da maioria das mordidas, 55% para ser mais exato, aconteceu com pessoas que nunca haviam visto o cachorro antes do incidente.

Outro padrão encontrado foi que as pessoas que eram menos estáveis emocionalmente e mais ansiosas também estavam mais propensas a serem mordidas. Para cada queda em uma medição de neuroticismo em uma escala de um a sete (sete sendo a mais estável), o risco associado de uma mordida sofrida na vida cresceu em 33%.

“Este estudo demonstra que as mordidas de cachorro mais severas, de maior significância em saúde pública, são, por sorte, uma pequena proporção das mordidas em geral que acontecem”, escrevem os autores. Mas eles também apontaram que é “essencial que fatores de risco previamente supostos seja reavaliados, já que esse estudo revelou que crenças antigas, como a de que as mordidas normalmente sejam de cachorros conhecidos, estão sendo contestadas”.

O estudo é um dos poucos a tentar descobrir com que frequência os cães mordem as pessoas, sem ter que contar com registros hospitalares. Eles descobriram que, se o número de mordidas relatadas na cidade no ano passado (13) fosse extrapolado para a população geral do Reino Unido, ele chegaria a 18,7 mordidas a cada mil pessoas anualmente. Esse número é muito maior do que estimativas oficiais, quase três vezes mais alto do que a quantidade frequentemente citada de 7,5 mordidas a cada mil pessoas no Reino Unido.

Embora esse estudo tenha sido baseado em uma amostra de população pequena, suas descobertas se alinham com outras pesquisas. Nos Estados Unidos, o risco de uma mordida de cachorro parece ser tão comum quanto no Reino Unido.

“Na verdade, descobrimos taxas de ocorrência de mordidas de cachorros muito parecidas com as de estudos anteriores nos EUA, e é provável que as causas das mordidas de cães tenham muitas similaridades entre o Reino Unido e os Estados Unidos, assim como existem semelhanças nas maneiras como os cachorros são mantidos como animais de estimação”, contou a autora do estudo, Carri Westgarth, epidemióloga em Liverpool, em entrevista ao Gizmodo.

Conexão ainda sem explicação

O estudo não conseguiu revelar por que a conexão entre mordidas de cachorro e pessoas ansiosas existe, embora Westgarth e seus colegas tenham suas teorias. Já que as pessoas frequentemente relataram ter sido mordidas mais de uma vez, e por muitas mordidas terem ocorrido na infância, é possível que alguém que tenha sido mordido logo cedo na vida tenha crescido mais ansioso, admitiu Westgarth.

“Também é plausível que pessoas com tipos diferentes de personalidade se comportem de maneira diferente perto de cães. Os cachorros acham certos comportamentos humanos ameaçadores e estressantes, respondendo, então, com agressão”, disse. “Também existe uma sugestão de que pessoas nervosas e ansiosas são mais propensas a terem cães nervosos, seja adquirindo cachorros com personalidades parecidas ou por meio de efeitos de seu comportamento um sobre o outro.”

“Nós realmente não sabemos o que está levando a essa associação neste momento, e a descoberta também precisa de confirmação de outros estudos para sabermos se foi um resultado pontual”, acrescentou.

O que fazer

Se ansiedade e outros fatores de risco, como ser homem, de fato são um gatilho para mordidas de cães, então isso poderia levar a iniciativas educacionais mais apropriadas para grupos de risco específicos, como homens, crianças e aqueles menos estáveis emocionalmente, disse Westgarth.

É claro, existem vários passos de prudência que donos de cães e seus admiradores podem seguir para diminuir o risco de uma mordida.

“Eles incluem: pegar cães que tenham pais com bom temperamento; socializar o cão desde o nascimento com uma variedade de pessoas e situações que ele provavelmente vá encontrar ao longo da vida; aprender a interpretar os sinais sutis de que um cachorro pode estar se sentindo desconfortável e estressado e que podem levar a uma mordida; e, mais importante de tudo, ser sensível sobre como o cão é criado e supervisionado”, disse Westgarth. “Por exemplo, não assustar um cachorro quando ele está dormindo, alimentar um cão separadamente e deixá-lo comendo em paz e nunca deixar cachorros e crianças juntos sem supervisão.”

“Tendemos a pensar que ‘não aconteceria comigo’ ou que ‘meu cachorro não morderia’, mas todos os cachorros podem (morder), e precisamos ser realistas para administrar situações de forma que eles nunca sintam a necessidade de morder”, acrescentou.

 

fonte: Gizmodo Brasil e BMJ
Escócia proíbe uso de colar de choque colar eletrônico e-collar em cães 01

Escócia proíbe uso de colar de choque (colar eletrônico) em cães

O uso do colar de choque em cães está prestes a ser efetivamente banido na Escócia. O Governo escocês confirmou a informação.

Ministros disseram em Novembro que poderiam continuar a permitir o uso destes equipamentos de treinamento.

Isso, mesmo apesar dos avisos de instituições de bem-estar animal de que os colares de choque causam sofrimento desnecessário

A Secretária de Meio Ambiente, Roseanna Cunningham anunciou que o Governo irá além.

O movimento segue uma campanha de MSPs, incluindo o conservador escocês Maurice Golden e Ben Macpherson do SNP, bem como instituições de caridade animal, incluindo o Kennel Club, o Scottish SPCA e The Dogs Trust.

Colares eletrônicos são utilizados para treinar animais com problemas comportamentais – mas os ativistas argumentam que são cruéis e questionaram sua eficácia como auxiliar no treinamento.

 

Completamente inaceitável

A Sra. Cunningham disse que tomou a decisão depois de ouvir as preocupações que foram levantadas – particularmente sobre a pronta disponibilidade na internet de dispositivos baratos que podem ser comprados por qualquer pessoa e usados ​​para descarregar choques elétricos dolorosos.

Ela acrescentou: “Decidi tomar medidas para proibir efetivamente e prontamente seu uso na Escócia. “Causar dor aos cães por métodos inadequados de treinamento é claramente e completamente inaceitável e quero que não haja dúvida de que o treinamento doloroso ou desagradável para cães não será tolerado”.

 

Escócia proíbe uso de colar de choque colar eletrônico e-collar em cães 02
O colar de choque permite que os tutores de cães lhes desfiram um choque elétrico no pescoço – Fonte: Getty Images

 

Cunningham disse que ela trabalharia com as autoridades para garantir que “qualquer pessoa que tenha causado dor aos cães através do uso de coleiras ou outros dispositivos possa ser processada como merece”. Ela confirmou: “Vou, portanto, emitir uma orientação ministerial forte sobre o uso de todos os dispositivos de treinamento dolorosos para que os tribunais tomem em consideração em todos os casos que lhes sejam apresentados quanto ao sofrimento desnecessário através do uso desses dispositivos”.

O guia preliminar já foi publicado, com a proibição de ser introduzida através de orientações emitidas no âmbito da Lei de Saúde e Bem-Estar Animal (Escócia) de 2006 nos próximos meses. O projeto de orientação afirma que: “Causar sofrimento desnecessário é uma infração ao abrigo da Lei de Saúde e Bem-estar Animal (Escócia) de 2006. Isso inclui o sofrimento causado por métodos inadequados de treinamento”. Uma vez finalizada a orientação, os tribunais poderão levá-la em consideração ao estabelecer a responsabilidade em processo.

 

Debate Holyrood

O governo disse em Novembro que reforçaria as restrições em torno do uso de coleiras eletrônicas para treinamento de cães, mas seu uso ainda seria possível sob supervisão. Ele também disse que estava trabalhando com treinadores para desenvolver uma qualificação reconhecida para aqueles que desejassem continuar usando os colares de forma “controlada e responsável” para ajudar a treinar cães.

Mas Cunningham disse que a qualificação proposta não seria criada. Os colares já estão proibidos no País de Gales, mas permanecem em uso na Inglaterra. O Parlamento escocês deveria debater o uso de coleiras de choque elétrico na quinta-feira à tarde, com os partidos da oposição que se espera unirem para pedir a introdução de uma proibição. O debate deveria ter sido liderado pelo Sr. Golden, com uma petição que apoia o convite atraindo cerca de 20 mil assinaturas na quarta-feira à tarde.

O anúncio da Sra. Cunningham na quarta-feira foi recebido por ativistas e políticos de todas as partes. O Sr. Golden disse que estava “muito satisfeito com o governo escocês finalmente anunciar a proibição do uso de coleiras de choque elétrico para cães, que eles ouviram nossa campanha e as 20 mil pessoas que assinaram minha petição”. E Harry Huyton, diretor da instituição de caridade animal OneKind, disse que as coleiras de choque elétrico eram “cruéis, desnecessárias e ineficazes”.

 

 

Fonte:  bbc.com news – 24.01.18
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Psicologia experimental e etologia investigam comportamento animal

Especialista fala sobre livro, pesquisa na USP e relações entre as áreas de psicologia experimental e etologia

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Livro de norte-americano que foi pesquisador visitante da USP aborda comportamento de animais sob o ponto de vista dos dois campos de conhecimento. Na imagem, gansos-de-faces-brancas em migração sazonal – Foto: Wikimedia Commons

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Escrever um livro que integrasse os vários campos de estudo do comportamento, especialmente a etologia e a psicologia experimental, numa linguagem básica comum foi um sonho acalentado por mais de 50 anos pelo etólogo americano Jerry Hogan, professor emérito do Departamento de Psicologia da Universidade de Toronto, Canadá.

Quando em 2009 o também etólogo César Ades (1943-2012), diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP à época, convidou o colega americano a apresentar um projeto para ser professor visitante do Instituto, Hogan decidiu aproveitar a oportunidade para finalmente escrever o livro. Lançado em novembro pela Cambridge University Press, o livro Study of Behavior – Organization, Methods and Principles é o resultado da estada do pesquisador no IEA de agosto de 2013 a julho de 2015.

Durante visita a São Paulo na primeira semana de 2018, Hogan concedeu entrevista ao IEA sobre o livro e sobre as várias mudanças no estudo do comportamento nas últimas décadas. A seguir, a tradução editada da entrevista.

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O etólogo americano Jerry Hogan, ex-professor visitante do IEA – Foto: Sandra Codo/IEA-USP

IEA – Sua ideia de escrever um livro relacionando o que há de comum entre a etologia e a psicologia experimental surgiu há mais de 50 anos, quando de seu pós-doutorado na Holanda. Desde então as duas disciplinas se transformaram e surgiram outras relacionadas a elas, aumentando ainda mais a fragmentação do conhecimento. Nesse sentido, pode-se dizer que foi melhor que tenha escrito o livro agora e com isso poder relacionar todos os antigos e novos campos de estudo?

Hogan – Naquela época, a grande discrepância aparente entre a etologia e a psicologia experimental era a ideia de que os etólogos observam os animais e seu entorno natural e os psicólogos observam o comportamento no laboratório. Além disso, os etólogos se preocupam com o que muitos chamam de comportamento instintivo e os psicólogos atentam para o aprendizado. De certa forma, eles são diferentes, mas se pensamos em termo de ‘doutrina’, o psicólogo e o etólogo são bastantes similares, pois ambos tentam entender como os animais se comportam. Desde então, os dois campos mudaram dramaticamente. A etologia tornou-se muito mais ecológica e interessada em diferentes tipos de explicações evolucionistas. A psicologia foi de interessada na resposta ao estímulo a algo muito mais cognitivo. Os psicólogos compreenderam que alguma coisa acontece no cérebro entre o estímulo e a resposta a ele. Os dois campos originais se tornaram bem maiores e mudaram de muitas maneiras. Uma das coisas que descobri é que muitas pessoas sentiam que as ideias antigas estavam todas erradas, que tudo deveria ser considerado de uma nova maneira. Mostrar que isso não é verdade é uma das coisas que espero que meu livro faça, pois é quase um livro histórico, que examina todas as ideias antigas, as modifica e tenta mostrar o que é mais relevante para o tipo de coisa que as pessoas estão fazendo atualmente.

A psicologia foi de interessada na resposta ao estímulo a algo muito mais cognitivo. Os psicólogos compreenderam que alguma coisa acontece no cérebro entre o estímulo e a resposta a ele.

IEA – O senhor diz no prefácio que não se trata de um livro de curso normal, pois não procurou fazer uma revisão da literatura relevante, mas sim uma monografia com suas ideias sobre vários aspectos do comportamento. De qualquer modo, o resultado atingido pode ser considerado uma concepção de como deve se dar a formação de um pesquisador do comportamento?

Hogan – Penso que sim. O livro apresenta o comportamento como penso que ele possa ser melhor entendido, de forma que todo mundo possa pensar sobre ele. Apresento outras ideias e mostro como minhas ideias poderiam ser usadas para interpretar os mesmos tipos de dados sobre os quais as pessoas estão falando. Quando digo que não é uma revisão da literatura, quero dizer que não digo: “Há estas ideias sobre isso; esta é a minha e esta é a forma de compará-la com as outras”. Não é também uma revisão no sentido de eu apresentar exemplos em detalhes. O leitor pode ver como o experimento foi feito, como a conclusão foi atingida. O livro apresenta coisas relevantes, do tipo “A descobriu isso; B, aquilo; C, aquilo outro; isto é um bom experimento, estas são as ideias e foi assim que o experimento foi feito”. Penso que é um bom livro para ensinar as pessoas a entender o comportamento e mostrar como elas mesmas podem pesquisá-lo.

IEA – Quando o senhor fala de similaridades entre os campos de estudo do comportamento significa que eles tratam dos fenômenos de maneira parecida e chegam a conclusões próximas ou as abordagens são complementares?

Hogan – Os fenômenos são os mesmos: animais, inclusive pessoas, fazendo alguma coisa. Isso é comportamento. Como investigá-lo e como interpretá-lo. Niko Tinbergen, um dos fundadores da etologia, tinha uma lista de quatro diferentes tipos de questões que podem ser feitas: o que causa o comportamento, como ele se desenvolve, qual o seu valor para a sobrevivência e como ele evolui. Psicólogos em geral não estão interessados em valor para sobrevivência ou evolução. Muitos etólogos se tornaram interessados apenas em evolução e não mais nas coisas do comportamento. De fato, se você lê um livro de curso britânico sobre etologia, não encontrará quase nenhuma referência sobre o que antigos etólogos costumavam fazer, nem sobre coisas que os psicólogos e neurofisiologistas estão fazendo. Por outro lado, neurofisiologistas, que estão interessados em memória e coisas assim, não falam sobre como o comportamento evolui. Apresentam questões diferentes. Uma das coisas que Tinburgen disse muitos anos atrás é que se deve realmente olhar para os fenômenos de todas as diferentes maneiras, mas um psicólogo pode dizer que a evolução não é relevante para o estudo ou que é relevante, mas não se preocupará com ela. Não é necessária.

Um psicólogo pode dizer que a evolução não é relevante para o estudo ou que é relevante, mas não se preocupará com ela. Não é necessária.

IEA – De que forma sua estada no IEA e as interações com pesquisadores da USP contribuíram para a produção do livro?

Hogan – Eu dei um curso de psicologia na USP em 1977, quando conheci Cesar Ades. Continuamos a manter contato e estive novamente no Brasil em 2008 e 2009. Quando estava aqui, durante um almoço, Cesar me sugeriu que viesse para cá como professor visitante. Pensei que era uma boa ideia, mas eu tinha de ter um projeto. Como digo no prefácio, eu estivera pensando em escrever o livro por 50 anos. Eu sabia mais ou menos o que tinha de fazer para apresentar a proposta. Me aceitaram e comecei o meu livro. Foi uma continuação do meu contato com pesquisadores brasileiros. As condições oferecidas foram excelentes, principalmente o fato de que não incomodam você. Você senta na sua sala e ninguém bate na porta para pedir que faça alguma coisa. E se você precisa de ajuda, pede a alguém.

– Quais as perspectivas para o estudo do comportamento nas próximas décadas? Podem surgir novos campos de estudo a serem integrados aos já existentes?

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Capa do livro de Jerry Hogan, Estudo de Comportamento – Organização, Métodos e Princípios – Foto: Reprodução / Cambridge University Press

Hogan – O que o livro pode fazer é reunir pessoas de diferentes campos, como neurofisiologia, ecologia do comportamento e neuropsicologia, que pensam de diferentes maneiras, devido às diferentes perspectivas, e permitir que usem uma linguagem comum. Acho que essa é a real importância do livro: definir um tipo de linguagem para falar sobre psicologia cognitiva, comportamento de ratos, evolução. Uso um vocabulário básico que se aplica a todos esses campos. Não é muito diferente do que outras pessoas estão fazendo. Você tem de se especializar no que está fazendo no laboratório ou em um estudo particular, mas deveria estar pensando nas coisas em termos de um quadro amplo.

IEA – Depois do esforço de produção do livro, pretende iniciar algum novo projeto ligado ao estudo do comportamento?

Hogan – Estou pensando nisso. Tenho colaborado com pesquisas experimentais de outras pessoas. Elas estão fazendo o trabalho de laboratório. Não tenho estado num laboratório há muito tempo. Não estou realmente observando animais, mas colaboro nas discussões de base sobre os experimentos. Mas tenho de dizer que ao escrever o livro eu aprendi bastante. Os capítulos tratam de diferentes áreas. O que me surpreendeu é que algumas ideias de uma área são muito similares às de outra e eu nunca tinha pensado a respeito dessas relações. Se eu tiver ânimo, escreverei sobre elas.

Mauro Bellesa / Divisão de Comunicação do IEA
Fonte:  Jornal da usp, ciências, 10/01/18

A importância de brincar com seu cão: uma abordagem científica

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A interação social durante a brincadeira é importante para o bem-estar dos cães. Foto: Google

 

Você dedica algum tempo para brincar com seu companheiro?

A importância de brincar com seu cão: uma abordagem científica

As causas pelas quais os animais brincam ainda são motivos de estudos sobre o comportamento animal e as possíveis consequências para seu bem estar. O brincar está amplamente distribuído nas espécies animais, e não só os animais domésticos executam essa curiosa atividade. As brincadeiras aparecem em espécies com habilidades motoras e cognitivas complexas, sendo mais frequentes durante o desenvolvimento juvenil.

Podemos definir esse comportamento como voluntário, repetitivo, ocorrendo em situações que não envolvam risco. Entretanto, essa condição incorre em custos energéticos, tempo, possível exposição a injúrias, doenças e predadores, sendo exatamente estes últimos aspectos que ressaltam a presente dúvida.

As brincadeiras podem servir para diferentes funções de acordo com a espécie, idade, meio ambiente, status social e reprodutivo do nosso animal. Para o cão devemos também considerar os aspectos relacionados à sua domesticação, que se originou de uma associação com mais de 10.000 anos.

Além das questões relacionadas à função desse comportamento, temos nos perguntado se há também benefícios sobre o bem estar do animal. Para tanto, vamos relacionar as principais teorias que tentam explicar as funções do brincar nessa espécie tão querida. Vamos a elas:

– desenvolvimento de habilidades motoras

Brincar pode servir como uma preparação para o comportamento social adulto, por exemplo: eles aprendem a controlar a pressão de sua mordida sem causar danos ao parceiro. Podemos considerar que este treinamento dá também condições para um desenvolvimento cerebral privilegiado. Outro ponto seria um possível período sensível para a realização deste comportamento – este tópico não tem sido estudado, apesar de que sabemos que a taxa de brincadeiras diminui com o passar do tempo.

– treinamento para o inesperado

Essa explicação considera que esse comportamento melhoraria as habilidades sensoriais e locomotoras requeridas no caso de um evento inesperado, logo somente espécies com capacidades cognitivas mais complexas podem apresentar essa atividade. E não podemos esquecer que as brincadeiras dos cães, especialmente com humanos envolvidos, diminuem os hormônios relacionados ao estresse.

– coesão social

Essa teoria sugere que esse comportamento fortalece as relações sociais aumentando as chances de sobrevivência e reprodução. É importante lembrar que o cão é uma espécie que vive em grupo, e os tipos de brincadeiras que os cães executam conosco refletem essa natureza. Eles são menos competitivos e possessivos com seus brinquedos, e mais interativos durante suas brincadeiras com humanos, preferindo brincar com uma pessoa conhecida.

– brincar como um subproduto de processos biológicos

Ao invés de possuir uma função única, esse comportamento pode ser uma espécie de subproduto de outros processos biológicos. Durante a domesticação podemos ter selecionado diretamente ou indiretamente a retenção de comportamentos juvenis para a vida adulta dessa espécie.

Implicações das brincadeiras para o bem estar animal

Vamos pensar inicialmente num animal brincando solitariamente (situação que pode ser comum na sua casa quando você sai para trabalhar). Esse comportamento pode melhorar as capacidades desse animal (físicas e cognitivas), portanto seu bem estar. Contudo, se lembrarmos que esse animal é uma espécie gregária, então o ato de brincar pode ser uma tentativa de lidar com um meio pouco estimulador. Esse comportamento pode servir, nessa condição, como uma válvula de escape, já que nessas condições de manutenção podemos observar uma limitação severa de espaço e também social, que pode culminar numa condição de estresse.

A perseguição da cauda, um exemplo comum, que o animal executa como uma forma de seu comportamento normal, quando juvenil, pode indicar uma condição de subestimulação que reduzirá seu bem estar, e que pode culminar com o desenvolvimento de comportamentos anormais repetitivos. Portanto, essa condição (brincar sozinho) proporciona ao animal uma oportunidade para enriquecer um meio com pouca estimulação, e se ocorre em altas taxas pode indicar um prejuízo nas condições de seu bem estar. Logo, entreter seu cão, brincando com ele diretamente, e não deixá-lo brincar sozinho é uma forma de melhorar seu bem estar.

Portanto, é fundamental que você se envolva em atividades com seu cão, não pense que deixando brinquedos para ele utilizar sozinho seja uma estratégia adequada para melhorar seu bem estar. Com certeza é você o parceiro para brincadeiras que seu cão deseja.

 

Mais informações:
Why dogs play? Function and welfare implications of play in the domestic dog.
Applied Animal Behaviour Science 197: 1-8, 2017.

 

Gelson Genaro
Médico veterinário formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal (SP), com mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP em Fisiologia. Professor da disciplina Bem Estar Animal, no Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto (SP)