Home » Mundo Científico

Categoria: Mundo Científico

papagaio cinzento psittacus erithacus congo contrabando ameaçado

O Papagaio Cinzento ameaçado de extinção – Psittacus erithacus

Este papagaio fala como a gente, mas estamos prestes a silenciá-lo

Cientistas estão utilizando técnicas forenses para ajudar a salvar o popular papagaio-cinzento, uma das aves mais contrabandeadas do mundo.

papagaio cinzento psittacus erithacus congo contrabando ameaçado
Papagaios cinzentos (na foto, uma ave do zoológico de Dallas, nos EUA) têm a incrível habilidade de imitar a voz humana, fazendo deles animais de estimação muito cobiçados. FOTO DE JOEL SARTORE, NATIONAL GEOGRAPHIC PHOTO ARK

Em um suntuoso aviário próximo a Durban, África do Sul, um papagaio-cinzento pula na minha direção, tagarelando em um idioma que eu não compreendo.

“Ele está falando zulu”, explica o criador William Horsfield, responsável por 700 pássaros que falam e pulam constantemente de poleiro em poleiro nos jardins de suas instalações imaculadas. Muitos deles são papagaios-cinzentos, os melhores mímicos entre as 350 espécies conhecidas de papagaios e, por isso, um animal de estimação muito cobiçado.

Muitos de seus papagaios cinzentos foram resgatados, como este papagaio que fala comigo em zulu. Eles eram animais de estimação, alguns deles abandonados por seus donos, ou animais confiscados do mercado negro, como a ave encontrada em Brazzaville, na República do Congo, com uma corda amarrada em sua perna.

Alguns dos papagaios que vivem aqui poderiam fazer parte dos 1,3 milhões ou mais de papagaios cinzentos que foram exportados legalmente da África nas últimas quatro décadas. E isso faz deles os sortudos.

Centenas de milhares de outros, ou talvez mais, morrem em trânsito ou são levados ilegalmente das florestas tropicais da África Ocidental e Central.

Aliás, o papagaio-cinzento foi agora categorizado como ameaçado, gerando a preocupação de que a ave de estimação mais popular do mundo possa se tornar uma das mais raras.

Agora, uma mistura dedicada de conservacionistas, geneticistas, oficiais do governo e outros estão unindo forças para rastrear as capturas ilegais e tentar impedir que elas aconteçam. Eles já desenvolveram métodos científicos capazes de identificar rapidamente se um papagaio foi roubado da floresta.

Mas isso ainda não impediu a captura de aves selvagens em lugares onde elas são relativamente fáceis de serem capturadas, como na República Democrática do Congo, ou RDC, e sua vizinha, a República do Congo.

“As pessoas muitas vezes ficam impressionadas ao saberem que papagaios ainda são capturados na natureza, mas isso acontece em enormes quantidades e com pouquíssima fiscalização” disse Rowan Martin, diretor do Programa de Conservação da África para o World Parrot Trust.

Famosos, mas pouco conhecidos

Os cinzentos, como a maioria dos papagaios, têm uma característica que os torna ainda mais vulneráveis. Eles fazem seus ninhos em cavidades já existentes dentro de grandes árvores velhas. Eles não conseguem fazer seus próprios buracos.

Por isso o impacto do desmatamento é tão grande para eles: os papagaios pais em busca de um ninho “parecem querer exatamente as mesmas árvores que os humanos buscam primeiro” disse Stuart Marsden, que estuda os pássaros na Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido.

Além disso, todas as noites os papagaios se empoleiram e socializam nestas altas árvores. “As boates do mundo dos papagaios”, como descreveu Marsden, fazendo deles alvos fáceis. Os caçadores derrubam as árvores para tirar os filhotes de seus ninhos ou posicionam gravetos cobertos de cola na tentativa de ludibriar em massa os adultos.

 

papagaio cinzento psittacus erithacus timneh contrabando
Um grupo de papagaios Timneh, uma subespécie do papagaio-cinzento, capturado por um traficante de animais selvagens na África Ocidental. Esses animais são muitas vezes malcuidados, e muitos morrem antes de serem exportados. FOTO DE ROWAN MARTIN, WORLD PARROT TRUST

Para um animal tão querido, Marsden disse, pouco se sabe sobre o papagaio-cinzento na natureza. Um dos primeiros estudos sobre seu declínio, em 2016, revelou que, em Gana, suas populações diminuíram 99%. Uma ave tão familiar para os ganeses quanto um pombo, e que um dia atacavam culturas frutíferas em grandes bandos barulhentos, está quase desaparecendo.

Hoje, aproximadamente 18 mil aves podem ser capturadas ilegalmente na RDC a cada ano, entulhadas em pequenas caixas de transporte ou amassadas em malas de mão. A maioria dos papagaios-cinzentos capturados na natureza provavelmente morre em trânsito.

Combatentes do crime

Enquanto isso, combatentes científicos contra o crime estão empenhados em acabar com o tráfico. Entre eles está o ornitólogo Pepper Trail que, em um laboratório em Oregon, segura gentilmente um xale ornamentado feito de vibrantes penas azuis, amarelas e laranja.

Feito no Brasil a partir de penas de papagaios-do-mangue e araras-azul, é um entre muitos artefatos analisados por ele durante seus 20 anos como ornitólogo forense no único laboratório do mundo dedicado a crimes contra animais selvagens.

Até agora, Trail conseguiu identificar mais de 750 espécies de aves submetidas ao Laboratório Forense da Ashland para o Serviço de Peixes e Vida Selvagem dos Estados Unidos, e esse número continua subindo.

“Pode ser um trabalho triste”, ele disse. “Tudo o que eu vejo está morto”.

Também pode ser um trabalho difícil se houver apenas uma ou duas penas disponíveis. Por sorte, Trail conta com muitas ferramentas a sua disposição, de laboratórios genéticos e patológicos a uma enorme “biblioteca” de referência de animais mortos.

Em uma sala selada com o odor pungente de decomposição, besouros carnívoros devoram diversos corpos de papagaios, incluindo um papagaio-cinzento. Os insetos transformam o animal em um esqueleto limpo, que um dia poderá ser usado como referência em uma investigação criminal.

Ele diz que crimes contra a vida selvagem são combatidos na surdina quanto se trata de papagaios.

Natureza ou cativeiro?

De volta ao aviário na África do Sul, Horsfield prioriza o bem-estar de seus pássaros, vendendo apenas pares (um pássaro solitário tem mais chances de se tornar depressivo e se automutilar), na maioria das vezes para outros criadores, enquanto tenta dissuadir todos exceto os mais sérios compradores de adquirirem papagaios-cinzentos.

“Infelizmente”, ele disse, “você sempre encontrará alguém para conseguir o que você quer”, em referência às instalações a nível industrial que abrigam até mil casais reprodutores de papagaios-cinzentos.

Mas a lei está começando a chegar a esses lugares. Em 2016, a Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, ou CITES, que monitora o comércio internacional de espécies raras, tomou a decisão controversa de banir todo e qualquer comércio internacional de papagaios-cinzentos, exceto em “circunstâncias excepcionais”.

papagaio cinzento psittacus erithacus timneh contrabando 02
Um papagaio Timneh selvagem apreendido do comércio ilegal em Serra Leoa. O animal está sendo tratado no Tacugama Chimpanzee Sanctuary, em Freetown, com assistência do World Parrot Trust.
FOTO DE ROWAN MARTIN, WORLD PARROT TRUST

“É uma vitória quanto a mensagem transmitida sobre como este comércio é malconduzido, como causa um grande impacto, e que o mundo não concorda com isso”, disse Marsden.

Para que possam continuar vendendo papagaios-cinzentos para o exterior, criadores ao redor do mundo terão de provar para os inspetores da CITES que suas aves são todas criadas em cativeiro e não capturadas da natureza, o que pode ser difícil, já que a maior parte de seu bando reprodutor veio originalmente das florestas na África Central.

De fato, muitos criadores de papagaios já saíram do mercado. Apenas alguns milhares de papagaios-cinzentos foram exportados em 2017, diz Mpho Tijane, coordenador da implementação da CITES na África do Sul.

“Para muitas pessoas, é sua maior fonte de renda. Da noite para o dia, eles ficaram paralisados” adiciona Ben Minnaar, um antigo criador de aves em Pretória.

Horsfield teme que a nova regulamentação faça com que alguns criadores “disfarcem” suas aves, registrando animais de origem incerta como criados em cativeiro.

Este “contrabando de documentos” já é muito comum entre os papagaios-cinzentos. Comerciantes ilegais falsificam a documentação e talvez ainda subornem oficiais para que registrem aves capturadas na natureza como de cativeiro, disse Susan Lieberman, especialista em comércio internacional de animais selvagens na Wildlife Conservation Society.

Rastreando as origens

Mas pode haver um jeito.

Em seu laboratório ensolarado de pé-direito alto na Universidade de KwaZulu-Natal, Sandi Willows-Munro vasculha um freezer repleto de aves mortas e penas em busca de uma remessa confiscada de aproximadamente 200 papagaios-cinzentos que morreram no ano passado no Aeroporto Internacional King Shaka, em Durban.

“As carcaças chegam para mim. Recebo coisas bem estranhas” diz a geneticista.

Em sua morte, estas aves podem um dia ajudar seus parentes selvagens. Willows-Munro espera desenvolver um método genético que determine se uma ave foi capturada na natureza ou se foi nascida em cativeiro, através da determinação de diferentes perfis genéticos. Dado que aves em cativeiro costumam ser consanguíneas, certas versões de um gene se tornam predominantes e podem servir como uma impressão digital para o cativeiro.

Aparentemente, este trabalho com DNA poderia resultar em um teste que permita aos criadores, compradores em potencial ou inspetores nos aeroportos tirarem uma amostra de uma ave e revelar sua origem.

Craig Symes, ornitólogo na Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, estudou uma abordagem similar utilizando isótopos. Ele descobriu que analisar isótopos, ou diferentes variantes de um elemento, nas penas de papagaios-cinzentos poderia revelar suas dietas e, assim, suas origens.

Por exemplo, pássaros em cativeiro se alimentam de certos tipos de plantas com uma assinatura indicativa, como o milho, enquanto seus parentes selvagens têm uma dieta muito mais diversificada.

“Isso poderia ser usado como prova em qualquer julgamento em que alguém afirme que os pássaros foram criados em cativeiro, enquanto, na verdade, foram capturados da natureza” disse Symes.

“Nunca me canso disso”

Enquanto isso, criadores como Minnaar planejam continuar fazendo o que amam. “Adoro criar papagaios. Tomar conta dos ovos, tirar os bebês de dentro de suas cascas”, contou ele, em meio à gritaria constante de seu “berçário”.

Próximo a sua casa no interior da África do Sul, ele instalou uma série de incubadoras repletas de filhotes, em sua maioria cacatuas, em diferentes fases de desenvolvimento, como um grande berçário de hospital.

E, neste momento, estão todos com fome.

Começando pelos recém-nascidos, Minnaar alcança as incubadoras e alimenta os filhotes de bocas abertas com seringas. Ao serem alimentados, cada filhote rosado e desengonçado bate feliz suas pequenas asas.

“Nunca me canso disso”, diz Minnaar, sorrindo.

Fonte: National Geographic Brasil

Como os animais encontram remédios na natureza

Algo estranho aconteceu há 35 anos, quando o primatologista Mike Huffman estava estudando um grupo de chimpanzés no oeste da Tanzânia.

Chausiku, uma das fêmeas, deixou seus filhotes com outros animais da espécie, subiu em uma árvore e deitou-se em um ninho.

“É incomum que chimpanzés durmam durante o dia”, explica Huffman.

Então aconteceu algo extraordinário.

Chausiku desceu da árvore, pegou seu filho, caminhou devagar e com dificuldade, seguida pelo grupo, até que se sentou em frente a um arbusto.

“O nome do arbusto é mjonso”, explicou Mohamedi Seifu Kalunde, assistente de pesquisa de Huffman.

Kalunde é um renomado especialista na selva local. Ele foi treinado por seus pais e avós na arte da fitoterapia, estudo das plantas medicinais. “É um medicamento muito poderoso e importante para nós”, ele diz.

A planta, que em português é chamada de vernonia (Vernonia amygdalina), é usada na Tanzânia para tratar malária, parasitas intestinais, diarreia e dores de estômago.

Muitos outros grupos na África tropical e na América Central — que conhecem a erva por vários nomes, mas geralmente como “folha amarga” — também a usam para tratar doenças como malária, esquistossomose, disenteria amebiana e outros parasitas intestinais e dores de estômago.

A chimpanzé Chausiku arrancou alguns galhos e removeu a casca e as folhas, que se ingeridas em grandes quantidades podem ser letais.

O interessante — além de não ser uma planta que faça parte da alimentação desses primatas — é que Chausiku mastigou o miolo e depois cuspiu as fibras.

Será que a chimpanzé fazia isso não para se alimentar, mas para se sentir melhor?

Em outras palavras, Chausiku estava usando a erva deliberadamente como um medicamento?

Mjonso

Chausiku foi dormir em seu ninho mais cedo do que de costume.

No dia seguinte, Huffman e Kalunde notaram que ela continuava se sentindo mal: ela precisava descansar com frequência, movia-se devagar e comia pouco.

Mas tudo mudou cerca de 24 horas após a ingestão da seiva amarga de mjonso. A chimpanzé correu pela floresta até chegar a um prado pantanoso, onde devorou ​​grandes quantidades de figos, tutano de gengibre e capim elefante.

As observações que Huffman e Kalunde fizeram durante aqueles dois dias em novembro de 1987 se tornaram a primeira evidência documentada de um animal consumindo uma planta com propriedades medicinais e se recuperando posteriormente.

Eles teriam descoberto a medicina animal?

Conexão profunda

Embora seja verdade que esta foi a primeira evidência científica de automedicação em animais, Huffman enfatiza que não é uma descoberta, mas uma “redescoberta” de algo que algumas culturas deixaram cair no esquecimento.

Mas nem todas.

Na Tanzânia, por exemplo, aquela profunda conexão com a natureza ainda estava viva.

“Sabemos por nossa tradição que animais doentes procuram plantas para melhorarem, então usamos essas plantas para tratar nossas doenças também”, explicou Kalunde.

O episódio com os chimpanzés não foi a primeira vez que cientistas observaram o que parecia ser automedicação no reino animal.

Mais de uma década antes, o primatologista Richard Wrangham e seus colegas viram que os chimpanzés muitas vezes engoliam folhas inteiras sem mastigar. Na época, os cientistas se perguntaram se os animais faziam isso para curar infecções parasitárias.

A equipe até cunhou o termo zoofarmacognosia — do grego zoo (“animal”), farmaco (“droga ou remédio”) e gnosy (“conhecimento”) — para descrever o comportamento.

Mas eles não conseguiram provar que essas folhas continham produtos químicos tóxicos para os parasitas, ou que os chimpanzés estavam doentes antes ou que foram curados após se automedicar. Ou seja, ainda não havia elementos para provar a automedicação.

Sabendo disso, Huffman conseguiu que seus colegas bioquímicos analisassem a Vernonia amygdalina. Eles descobriram mais de uma dúzia de novos compostos com propriedades antiparasitárias.

Além disso, o primatologista coletou amostras fecais do grupo Chausiku e descobriu que, depois de mastigar a planta, os ovos do parasita nas fezes diminuíram em até 90% em um dia.

E mais, observações subsequentes mostraram que eles tendiam a mastigar folhas mais amargas durante a estação chuvosa, quando os parasitas eram mais abundantes.

“Esse foi o início desta jornada que embarquei há 35 anos ou mais”, diz Huffman, professor da Universidade de Kyoto, no Japão. Ele acabou se tornando um dos maiores especialistas em automedicação animal.

Chowsiku e sua planta de folha amarga foram a chave para estudos posteriores, que mostraram que o evento estava longe de ser único.

Na verdade, agora sabemos que esse tipo de comportamento vai muito além dos chimpanzés. Outros mamíferos, pássaros e até insetos tratam suas próprias doenças de maneiras diferentes.

Hábito estranho

O próprio Huffman começou a investigar relatos de outro lugar na Tanzânia, onde macacos tinham “o estranho hábito de pegar folhas ásperas, dobrá-las na boca e engoli-las”.

“Durante anos procurei um sistema para estudar adequadamente esse tipo de comportamento”, até que descobri “que na verdade eles estavam expulsando parasitas”.

Como as folhas são difíceis de digerir, elas “diminuem a quantidade de tempo que o alimento leva para passar pelo trato intestinal”.

Eles estavam limpando seu sistema digestivo. “Em exatamente seis horas, eles expulsaram os parasitas.”

Depois de discutir o assunto com os colegas, um grupo de cientistas começou a investigar. Hoje se sabe que existem 40 espécies diferentes de folhas que 17 populações diferentes de chimpanzés, bonobos e gorilas usam para se livrar de parasitas.

E os primatas não são os únicos a usar essa técnica.

“Agora sabemos que pequenos mamíferos como a civeta também dobram e engolem folhas e expelem parasitas, e grandes mamíferos como o urso pardo e o urso preto fazem parecido”, diz o cientista.

foto: shutterstock.com/photos

Algumas araras e papagaios usam argila para tratar dores de estômago; a argila se liga às toxinas e as remove do corpo — Foto: Getty Images via BBC

“Também os gansos da neve canadenses, geralmente os mais jovens, se automedicam antes de migrar no inverno, quando vão para o sul e têm um longo caminho a percorrer. Eles limpam seus sistemas antes de passar por esse longo e estressante período sem poder se alimentar”.

As borboletas usam remédios?

“No ano passado, uma observação realmente interessante foi feita em Bornéu (ilha no sudeste asiático): orangotangos estavam mastigando certas plantas, mas sem engoli-las, apenas triturando-as com os dentes até formar uma pasta que depois era esfregada por 15 a 45 minutos”, disse Kim Walker, do Royal Botanic Gardens, em Londres.

“O que é realmente interessante é que era a mesma planta que a população humana local usava para dores nas articulações.”

“Há muitos, muitos animais que usam todos os tipos de drogas para tratar seus próprios patógenos e infecções”, diz Jaap De Rhoda, biólogo da Emory University, em Atlanta, nos Estados Unidos.

“Mas eu estava interessado em entender se animais com cérebros menores e mais diferentes do ser humano também poderiam usar formas de medicação.”

Os insetos são um grupo de animais que desenvolveram uma ampla gama de diferentes estratégias de medicação.

Um exemplo é a borboleta-monarca que, quando ainda é lagarta, só pode comer erva-leiteira ou as plantas leiteiras. Essas plantas tóxicas contêm substâncias químicas chamadas cardenólidos.

As borboletas são imunes a esses compostos tóxicos, que se acumulam em seu sistema e as protegem de predadores. Mas, além disso, as espécies de erva-leiteira que apresentam maiores concentrações desses elementos acabam defendendo esses insetos de um parasita mortal: Ophrycocystis Electroscirrha.

A questão a se descobrir é se a borboleta-monarca procura especificamente essas espécies medicinais de erva-leiteira quando já estão doentes.

“Para nossa grande surpresa, descobrimos uma forte preferência entre as borboletas-monarca infectadas em colocar seus ovos nessas plantas medicinais que reduzirão a infecção em seus descendentes futuros. Já aquelas que não estão infectadas, escolheram plantas ao acaso.”

E há outra criatura frágil e pequena que tem conhecimento médico.

O remédio das abelhas

“As abelhas têm maneiras diferentes de tratar suas infecções”, diz De Rhoda.

“Por exemplo, elas coletam resinas das árvores, a substância pegajosa que as árvores produzem como defesa. As abelhas misturam a resina com sua cera, usam em suas colmeias e está comprovado que esse composto reduz o crescimento de todos os tipos de patógenos”, explica.

Não apenas serve como uma defesa em suas casas, mas “agora elas também podem consumi-lo, para reduzir as doenças em seu próprio corpo”.

Para De Rhoda, “uma das coisas interessantes sobre isso é pensar que a medicina é uma profissão que pode evoluir com o tempo, mas que também pode se perder. E é isso o que estamos vendo com as abelhas”.

“A viscosidade é irritante, então, ao longo dos anos, os apicultores eliminaram inadvertidamente essa droga, selecionando as abelhas que usavam menos resina.”

“Agora devemos repensar as coisas e deixar as abelhas escolherem os próprios remédios, medicamentos que elas usam há milhões de anos, porque isso pode realmente beneficiar as colônias e, portanto, os apicultores”.

fonte: matogrossomais
Fêmeas-de-periquito-australiano-preferem-os-machos-mais-inteligentes-Ethos-Animal-Comportamento

Fêmeas de periquito australiano preferem os machos mais inteligentes

As fêmeas de periquito australiano preferem os machos mais inteligentes: segundo experimento chinês, elas podem até mudar de parceiro caso encontrem outro com maiores habilidades cognitivas. Descoberta reforça a Teoria da Evolução, de Charles Darwin.

Desde que foi proposta por Darwin, a Teoria da Evolução supõe que, no reino animal, indivíduos mais inteligentes são os preferidos na escolha de um parceiro sexual. Dessa forma, com o passar do tempo, apenas os melhores exemplares de cada espécie sobrevivem. Essa ideia acaba de ganhar reforço graças a descobertas de cientistas chineses. Em experimentos com aves, eles observaram que periquitos-australianos machos que mostram inteligência se tornam mais atraentes aos olhos das fêmeas. As descobertas foram publicadas na última edição da revista americana Science.

Estudos anteriores da mesma equipe com essas aves focaram em comportamentos correlacionados com a inteligência, como a preferência por música. Apenas depois de determinar essas características, o fator de atração entre os pares foi analisado. “Em algumas espécies, a variação nas habilidades cognitivas é correlacionada com o sucesso reprodutivo. Uma preferência para companheiros inteligentes pode, portanto, contribuir na seleção (…) É necessário explorar melhor essas habilidades, por meio das necessidades reais, e a atratividade do parceiro de forma conjunta. E isso foi o que resolvemos pôr em prática com o experimento”, explicam, no artigo, os cientistas, liderados por Yue-Hua Sun, pesquisador do Departamento de Zoologia da Academia Chinesa de Ciências.

Nos testes, fêmeas de periquito australiano foram reunidas com machos para que escolhessem os parceiros. Em uma segunda etapa, elas assistiram aos candidatos realizando uma tarefa: abrir uma caixa, uma espécie de quebra-cabeça, que estava cheia de comida. Nessa fase, havia animais já treinados para desempenhar a atividade e outros que tentavam pela primeira vez.

ethos animal comportamento aves calopsita animais silvestres e exoticos helena truksaConheça nossa Loja Virtual. Produtos especiais para Aves, cuidadosamente selecionados por Biólogos. Clique aqui e saiba mais!

A descoberta

Os pesquisadores perceberam que, depois que as fêmeas observaram as aves treinadas abrirem com sucesso as caixas e testemunharam que o parceiro escolhido não havia feito da mesma forma, as aves mudaram as preferências para os machos inteligentes. “De acordo com os resultados, a observação direta de comportamento inteligente, como a capacidade de resolver problemas para obter acesso a alimento, pode afetar a escolha de parceiros em aves, tornando os machos treinados preferidos pelas fêmeas, um comportamento que poderia estar por trás da evolução de desempenho cognitivo”, destacam os autores.

A equipe acredita que mais pesquisas precisam ser realizadas, mas considera que os resultados obtidos contribuem para reforçar a ideia de que o mesmo comportamento pode ocorrer em outras espécies. “Esses dados suportam várias hipóteses, começando com a de Darwin, que a seleção presente nas relações sexuais afetariam a evolução das características em todas as espécies animais. Mas, é claro, que mais estudos precisam ser conduzidos para examinar quão geral são nossas descobertas.”

femeas de periquito australiano preferem machos inteligentes ethos animal
(Foto: Chrysty Lande – Flickr)

Evolução animal

A inteligência é uma capacidade cognitiva bastante explorada em estudos de comportamento animal e, geralmente, é relacionada a maior sucesso na sobrevivência, segundo Georg F. Striedter, pesquisador da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. “Na análise das espécies, mamíferos de cérebro grande e pássaros, que são considerados superiores em suas capacidades cognitivas, mostram maior longevidade do que os parentes de cérebro menor”, afirma o especialista, em um texto opinativo publicado na mesma edição da revista Science.

Segundo Georg F. Striedter, comparações em contextos de resolução de problemas, especialmente em relação a atividades relacionadas à caça, mostram correlações com fecundidade. O especialista acredita que os dados obtidos no experimento chinês reforçam esses conceitos e podem abrir as portas para mais estudos relacionados à evolução no reino animal. “A abordagem empregada por Chen e sua equipe é uma considerável promessa para o avanço da pesquisa empírica na escolha do parceiro com base em características cognitivas. Numerosas espécies têm a capacidade de escolher companheiros usando mais de uma característica, e o conjunto completo dessas características relevantes ainda não é conhecido em nenhuma espécie. Portanto, acredito que essa metodologia se tornará uma importante ferramenta para pesquisas relacionadas à escolha de parceiros”, explica.

Para saber mais

Contribuições históricas

O naturalista inglês Charles Darwin (foto), nascido em 1809, mudou totalmente a ciência com o desenvolvimento da Teoria Evolutiva e a seleção natural, divulgadas pela primeira vez no livro A origem das espécies, publicado em 1859. De acordo com o cientista, os organismos mais bem-adaptados têm chances maiores de sobrevivência. Com base nessa ideia, os seres mais evoluídos deixam um número maior de descendentes.

O cientista chegou a essas conclusões após um trabalho extenso de pesquisa durante uma viagem de cinco anos, na qual explorou América do Sul, Nova Zelândia e Austrália. Darwin observou uma série de animais que viviam no arquipélago de Galápagos e percebeu que cada espécie tinha características distintas de indivíduos encontrados em outras regiões. Com isso, e chegou à conclusão de que, mesmo com um ancestral em comum, os animais foram levados a evoluir devido ao ambiente diferente em que viviam.

Há especialistas que contestam essas ideias, e outros que tentam entender melhor os conceitos recorrendo à ajuda de instrumentos modernos. Avanços na genética, por exemplo, têm ajudado a revelar, com detalhes, mudanças ocorridas em organismos de animais ao longo dos anos.

 

Fonte: Correio Braziliense, 11.01.19 – por Vilhena Soares
seu cão entende o que você está sentindo comportamento canino ethos animal etologia

Seu cachorro sabe o que você está sentindo?

Os cães vivem intimamente ligados a seres humanos há milhares de anos, e isso faz com que muitos pesquisadores (e amantes desses animais) se concentrem em uma pergunta: eles nos entendem? Seu cachorro sabe o que você está sentindo?

 

Não é difícil perceber que existem muitas diferenças nas formas como nos comunicamos. Cachorros usam movimentos sutis de seus corpos, especialmente das orelhas e do rabo. Claramente não podemos nos expressar dessa forma; ao invés disso, usamos mais intensamente expressões faciais. E, enquanto mostrar os dentes geralmente é um sinal de agressividade nos cães, costuma indicar felicidade em humanos. Eles percebem essas diferenças?

 

Muitos estudos indicam que sim! Pesquisadores da Universidade de Vienna, por exemplo, realizaram um experimento em que mostraram aos cães imagens de rostos pela metade (só a parte de cima ou só a parte de baixo). Um dos grupos era recompensado sempre que tocava nos rostos de pessoas felizes, e outro sempre que tocava nos rostos de pessoas bravas. Depois, quando viam imagens da outra metade dos rostos mostrando essas mesmas emoções, eles ainda conseguiam diferenciar os felizes dos bravos, mesmo quando eram de pessoas nunca vistas antes.

 

Além de mostrar que os cães podem reconhecer nossas emoções, os autores observaram que os cães aprendiam mais rápido quando eram recompensados por tocar nos rostos felizes do que nos bravos. Isso pode indicar que eles enxergam os rostos bravos como estímulos negativos.

 

Outro estudo que contribui para essa ideia foi realizado por pesquisadores da USP, em parceria com a Universidade de Lincoln. A equipe mostrou aos cães imagens de humanos e cães felizes e bravos, e observou que os cães lambiam com mais frequência a própria boca ao ver humanos bravos. O comportamento de lamber a própria boca é associado a estresse ou desconforto, demonstrando novamente que os cães parecem entender o significado de uma expressão brava.

 

Uma pesquisa anterior da mesma autora demonstrou que os cães conseguem associar rostos e vocalizações humanas que demonstram o mesmo sentimento. Ou seja, eles obtêm informações emocionais de estímulos visuais e auditivos, e conseguem integrá-los. Os pesquisadores levantam que é provável, então, que cães entendam o significado emocional de nossas expressões.

 

Em outro trabalho, quando cães observaram pessoas fingindo chorar ou apenas cantarolando, eles mais frequentemente foram cheirar, lamber e cutucar com o focinho as pessoas chorando. Os autores desse experimento, de Goldsmiths College, levantam que isso pode ser um sinal de comportamento empático com as pessoas que pareciam estar tristes.

 

Ainda temos muito a aprender sobre como nossas emoções são reconhecidas e afetam nossos cães, mas já dá pra ver que eles parecem nos entender bem. Então, quando estiver feliz, lembre-se de dividir a alegria com seu melhor amigo!

 

Referências:

Albuquerque, N. et al. (2016). Dogs recognize dog and human emotions.

Albuquerque, N. et al. (2018). Mouth-licking by dogs as a response to emotional stimuli.

Custance, D; Mayer, J. (2012). Empathic-like responding by domestic dogs (Canis familiaris) to distress in humans: an exploratory study.

Müller, C.A. et al. (2015). Dogs can discriminate emotional expressions of human faces.

Siniscalchi, M; d’Ingeo, S; Quaranta, A. (2018). Orienting asymmetries and physiological reactivity in dogs’ response to human emotional faces.

Alcock, J. Comportamento animal. 9. Ed. 2011.

Bradshaw, J. Cão senso. 1. ed. 2012

Horowitz, A. A cabeça do cachorro. 4. ed. 2013

 

A autora:
Juliana Werneck é bióloga graduada na Universidade de São Paulo e adestradora formada pela Ethos Animal. Atualmente pesquisa comunicação entre cães e seres humanos no Instituto de Psicologia da USP.

Papagaios do Congo demonstram auto-controle, diz pesquisa científica

Texto e fotos por Dra. Irene Pepperberg

Papagaios cinzentos podem às vezes ser impulsivos – pense em quantas vezes você pode ter que dar ao seu pássaro vários intervalos para o mesmo comportamento (como mastigar seus óculos escuros) em um período de tempo muito curto. No entanto, meus alunos e eu mostramos que nosso papagaio, Griffin, pode realmente mostrar um pouco de autocontrole. Descobrimos isso dando-lhe uma tarefa clássica usada para testar crianças.

A tarefa é informalmente chamada de “teste de marshmallow” e foi projetada pelo psicólogo Walter Mischel na década de 1970. Ele examinou cerca de 60 crianças, todas com aproximadamente 4 anos de idade, em um ambiente de laboratório. Ele usou várias versões da tarefa, mas na versão mais comum, ele sentou cada criança atrás de uma mesa, na qual ele colocou um prato com um marshmallow.

Ele disse à criança que tinha um compromisso e que voltaria em 15 minutos. Ele disse à criança: “Se você puder deixar de comer o marshmallow no prato na minha ausência, eu lhe darei um segundo marshmallow quando eu voltar”. Ele também disse às crianças que elas poderiam comer o primeiro marshmallow a qualquer hora, mas que, se não esperassem pelo seu retorno, não poderiam ter o segundo. E então saiu da sala (Mischel, 1974).

Quer saber mais sobre nossa Consulta comportamental para aves? Clique aqui.

Agora, se você sabe alguma coisa sobre crianças de 4 anos, para elas 15 minutos é uma vida. Muitas crianças desistiram e comeram o primeiro marshmallow. Mas várias crianças conseguiram esperar, e quase todas conseguiram realizar a tarefa descobrindo como se distrair. Eles se levantaram da mesa e dançaram ao redor; sentaram-se à mesa e cantaram para si mesmos. Às vezes, eles lambiam o marshmallow, mas não o comiam. Eles brincavam com seus cabelos ou roupas. Alguns até tentaram tirar uma soneca.

Mischel argumentou que aqueles que esperavam tinham mais autocontrole, uma forma de função executiva. Ele supôs que as crianças com mais autocontrole teriam mais sucesso em certas situações, como poder terminar o dever de casa antes de sair para brincar. Até que ele entrevistou essas crianças cerca de 30 anos depois que descobriu que sua hipótese estava correta: as crianças que haviam esperado mais tempo, na maior parte das vezes, tinham se saído melhor na escola, tinham ido mais longe. Faculdade concluída, tiveram melhores empregos e menos divórcios! [Uma nota: todas as crianças que ele testou vieram de famílias de classe média.]

Quando experimentadores subseqüentemente testaram crianças de comunidades empobrecidas, essas crianças muitas vezes não esperaram e deram razões como não confiar que o pesquisador voltasse, ou disseram que temiam que alguém comesse o segundo marshmallow ou até que alguém viesse e roubasse o primeiro … um comentário triste, com certeza.]

Não-humanos submetidos ao teste

Meus alunos e eu lemos alguns artigos nos quais os pesquisadores usaram essa tarefa de gratificação atrasada em assuntos não humanos. Muitos trabalhos envolviam experimentos com primatas não humanos, mas nenhum desses estudos havia realmente testado os animais exatamente da mesma maneira que Mischel havia testado as crianças. De fato, sentimos que alguns dos testes nos primatas não humanos provavelmente tinham algumas falhas de projeto. No entanto, em testes muito semelhantes aos usados por Mischel, as cacatuas e alguns corvideos pareciam ser capazes de esperar por uma recompensa melhor, embora não por mais recompensa (ver Auersperg et al., 2014; Hilleman et al., 2014). .

As cacatuas esperaram por muitos segundos; os corvideos por até 10 minutos. Curiosamente, os corvideos, que muitas vezes armazenam alimentos na natureza, às vezes armazenam a primeira recompensa enquanto esperam – possivelmente um caso de “fora da vista, fora da mente”. Esses estudos nos fizeram pensar se um papagaio cinza africano poderia se sair tão bem quanto crianças, ou talvez até melhor do que as cacatuas e corvideos. Sabíamos que nosso papagaio cinzento, Griffin, entendia a palavra “esperar” – embora ele não tivesse escolha, ouvia a palavra todos os dias quando dizíamos a ele que esperasse que seus grãos cozidos esfriassem e esperasse enquanto as pessoas entrassem no laboratório usadondo desinfetante para as mãos e tirassem os sapatos fora da sala antes de ir cumprimentá-lo. Então, passamos a testá-lo, usando a tarefa exata de Mischel (Koepke et al., 2015).

Observamos que em quase todos os outros testes com não-humanos, os pesquisadores ajustaram o procedimento de Mischel. Por exemplo, eles aumentaram lentamente o tempo de espera – portanto, se os participantes pudessem se abster de comer um amendoim por 10 segundos, no próximo teste tentariam fazer o sujeito esperar 20 segundos, e assim por diante, até que os sujeitos falhassem. Tal procedimento poderia realmente estar treinando os sujeitos a esperar, ao invés de testar seu comportamento básico.

Para controlar essa possibilidade, misturamos todos os tempos de espera. Outros pesquisadores às vezes usavam apenas um par de guloseimas; Queríamos garantir que um tratamento não fosse algum tipo de sinal para outro tratamento, por isso usamos vários pares diferentes de prêmios. E também queríamos garantir que Griffin não interpretasse a palavra “espera” como um comando treinado (como aquele dado a um cachorro que tem um biscoito colocado no nariz e tem que esperar por um comando para virar e comer). Então, em alguns testes, apresentamos a recompensa mais favorecida e pedimos a Griffin que esperasse pelo menos favorecido.

Griffin cinza africano joga o jogo de espera

Griffin conseguiu a tarefa – ele esperou em 108 dos 120 testes. Ele foi tão bem sucedido nos atrasos de 15 minutos quanto nos atrasos de 10 segundos. Ele não aprendeu a esperar … ele cometeu tantos erros no final do teste quanto no início, e houve tantos atrasos no início quanto no final do experimento. Os diferentes tipos de tratamento não importavam, mas em dois de seus fracassos, as recompensas eram muito próximas em termos de desejo (um caju e um doce), e ele decidiu comer a recompensa ligeiramente menos favorecida quase imediatamente.

Nos julgamentos em que lhe pedimos para esperar por algo menos favorável, ele mal esperou – ele passou um segundo ou dois olhando para nós como se fôssemos dementes e, em seguida, imediatamente comeu a recompensa, mostrando que ele estava muito consciente de quando ele deveria e não deveria esperar. E ele não estava simplesmente perdendo o interesse pela recompensa – em alguns de seus fracassos, ele esperou até quase o fim do período de atraso – em um caso, mais de 14 minutos – antes de sucumbir à atração da recompensa que estava presente.

O que foi particularmente interessante, no entanto, foram os padrões de comportamento que ele exibiu enquanto esperava: Ele fez quase as mesmas coisas que as crianças pequenas! Ele falou para si mesmo, ele tentou tirar uma soneca, ele se arrumou, virou a cabeça. Como as crianças, ele às vezes lambia a recompensa, mas não a comia. Na verdade, fizemos um vídeo em tela dividida das crianças (do YouTube) e Griffin para usar em uma apresentação em uma conferência, embora não pudéssemos usá-lo em nosso artigo publicado.

Claramente, os papagaios cinzentos podem, às vezes, agir de forma precipitada. No entanto, quando vale a pena, eles estão definitivamente dispostos a esperar, especialmente por uma recompensa melhor. Na natureza isso faz muito sentido: se ao forragear, as aves se depararem com algumas frutas, mas souberem que nozes mais densamente calóricas estão um pouco mais adiante, é muito melhor para elas esperar pelas nozes do que se encher de fruta. O próximo passo, é claro, é ver se Griffin vai esperar por mais uma recompensa … e isso pode não ser tão fácil, pois faz menos sentido ecológico: não há razão para não parar em um pequeno pedaço de nozes e comer -los enquanto espera algo maior. Fique ligado para ver o que o Griffin fará!

Tradução livre por Helena Truksa

ORIGINAL EM INGLÊS: https://lafeber.com/pet-birds/inside-dr-pepperbergs-lab-african-grey-parrots-show-self-control/

Referências:

Auersperg, A. M. I., Laumer, I. B., & Bugnyar, T. (2013). Goffin cockatoos wait for qualitative and quantitative gains but prefer ‘better’ to ‘more’. The Royal Society: Biology Letters, 9, Article 20121092.

Hillemann, F., Bugnyar, T., Kotrschal, K., & Wascher, C. A. F. (2014). Waiting for better, not for more: Corvids respond to quality in two delay maintenance tasks. Animal Behaviour, 90, 1–10.

Mischel, W. (1974). Processes in delay of gratification. In L. Berkowitz (Ed.), Advances in experimental social psychology, Vol. 7 (pp. 249–292). New York, NY: Academic Press.

caes-pequenos-fazem-xixi-mais-alto-para-mentir-sobre-seu-tamanho-diz-estudo-comportamento-animal-ethos

Cães pequenos fazem xixi mais alto para mentir sobre seu tamanho, diz estudo

Você simplesmente não pode confiar em um cachorrinho?

Nós todos sabemos que os cães podem se comunicar através do perfume. Eles urinam em novas áreas, em sua própria casa, e certamente em coisas que outros cães fizeram xixi. Também sabemos que alguns machos levantam as pernas para fazer xixi mais alto. Mas uma nova pesquisa descobriu que cães menores levantam as pernas em um ângulo ainda maior do que os cães maiores, talvez para parecerem maiores.

“Nossas descobertas … fornecem evidências adicionais de que a marcação de cheiro pode ser desonesta”, disseram os autores no estudo publicado recentemente no Journal of Zoology.

Os pesquisadores da Universidade de Cornell primeiro estabeleceram que o ângulo em que um cão levantou a perna é um bom substituto para a altura do xixi. Eles pegaram um monte de cães de abrigo para passear e os filmaram fazendo xixi com um iPhone e, em alguns casos, com uma câmera de alta velocidade. E sim, com base em sua análise, o quão alto o cão levantou a perna poderia prever o quão alto seria o xixi, assim como a massa e a altura do cão.

Cães pequenos mentem seu tamanho fazendo xixi no alto
Fonte: Google

Em seguida, eles analisaram o tamanho de um cachorro em comparação com o quanto ele levantou a perna. Ambos os cães, mais leves e mais baixos, erguiam as pernas em ângulos mais altos do que os cães maiores. Os cachorrinhos pareciam estar tentando deixar uma assinatura de xixi de um cachorro maior. Do estudo:

Assim, mesmo que a altura da marca de urina reflita em parte o tamanho do sinalizador, os cães pequenos parecem “trapacear” usando ângulos maiores de perna elevada para depositar marcas de urina mais altas, exagerando assim seu tamanho.

Os pesquisadores escrevem que pode ser benéfico para os cães “exagerar seu tamanho corporal e habilidades competitivas” para evitar conflitos com outros cães. O estudo também contribui para um crescente corpo de pesquisas que sustentam que cães menores e cães maiores se comportam de maneira diferente. Os pesquisadores apontam que o estudo tem seus limites e outras possíveis interpretações. Talvez cães grandes não possam levantar as pernas tão alto quanto cães pequenos, por exemplo. E seria uma pesquisa futura determinar como os cães reagem às diferentes alturas das marcas de cheiro. Mas eles apontam que outros viram exemplos de “sinalização desonesta” em outras espécies, como o mangusto-anão, em que marcas de cheiro aparecem em locais inesperados, dado o tamanho do animal. Então da próxima vez que você ver um cachorrinho fazer xixi, pergunte a ele: o que você está tentando provar?

 

[Gizmodo – Journal of Zoology via New Scientist]
Como os cães pensam Kelp redes neurais Ethos Animal comportamento

Como os cães pensam? Rede neural treinada através do comportamento canino

Pesquisadores treinam inteligência artificial com o comportamento canino para melhor entender como pensam.

Pesquisadores da Universidade de Washington e do Allen Institute treinaram redes neurais para tentar compreender o comportamento dos cães. Na experiência, foram utilizadas filmagens e capturas de movimento de um cão de raça Malamute do Alaska, utilizando uma câmara GoPro montada na sua cabeça e sensores de movimento ligados às suas penas e corpo. Ao todo foram capturados cerca de 380 vídeos das atividades do quotidiano da cadela Kelp, enquanto passeava e brincava.

Os pesquisadores utilizaram a informação capturada para alimentar a inteligência artificial através de deep learning. Através desta técnica foi possível cruzar a informação dos sensores dos membros da cadela com as filmagens do que estava a observar, levando a máquina a antecipar como o animal reagiria em determinadas situações.

Como exemplo, se fosse arremessada uma bola, a IA saberia que a cadela iria persegui-la. Para além disso, outros comportamentos demonstrados através de inteligência visual foram anotados, como o reconhecimento de comida, os obstáculos e reações a outros animais e humanos.

Após treinar a rede neural com o comportamento do cão, os pesquisadores testaram a IA para perceber se o computador aprendeu alguma coisa sobre o mundo que não fosse explicitamente programado. Foram feitos dois testes à rede: um deles para identificar diferentes cenários, tais como interiores, exteriores, escadas, etc., e o outro, os locais que a cadela poderia percorrer.

A rede respondeu com grande precisão através da informação anteriormente recolhida, prevendo como a cadela se movia nos vários cenários e como decidia mudar de um estado de comportamento para outro. Foi assim demonstrado como a IA aprendeu com o comportamento da cadela para generalizar outras tarefas.

Através deste sistema em que a rede neural foi alimentada com imagens diretas de vídeo e informações geradas pelos sensores de movimentos, os investigadores afirmam que a IA aprendeu sem a necessidade de introduzir informações manuais ou descrições detalhadas previamente sobre o comportamento do animal.

O estudo concluiu que será possível estender a experiência a outros agentes e cenários. Além disso, a investigação centrou-se apenas na informação visual, ficando de fora outros canais de interação com o mundo, tais como o som, o toque e o cheiro.

 

Fonte: SapoTek
cães mordem mais as pessoas ansiosas

Pesquisa científica demonstra que cães mordem mais as pessoas ansiosas

Pesquisa científica demonstra que cães mordem mais as pessoas ansiosas

Se você já ficou nervoso perto de um cachorro e te disseram para ficar calmo porque cachorros conseguem “sentir cheiro de medo”, você sabe que esse conselho é tão útil quanto falar para uma pessoa nervosa relaxar. O sentimento por trás dessa orientação, no entanto, parece estar enraizado em certa verdade: embora cachorros provavelmente não possam cheirar medo, eles parecem, sim, responder a pessoas temerosas com maior agressividade. Um novo estudo publicado na quinta-feira (1), na BMJ, descobriu que pessoas ansiosas ou neuróticas estão mais propensas a serem mordidas por cães. Além disso, os pesquisadores descobriram que a maioria das vítimas foi mordida por cachorros que não conhecia.

Pesquisadores da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, conduziram uma pesquisa com mais de 1.200 lares na cidade de Cheshire, na Inglaterra. Junto com a avaliação de personalidade padrão, eles perguntaram aos entrevistados se já haviam sido mordidos por um cachorro em sua vida; se isso havia levado a algum tipo de tratamento médico; e se eles conheciam o animal em questão.

Das mais de 600 pessoas que responderam, pouco menos de um quarto disse que havia sido mordido. Dessas mordidas (301 no total), um terço exigiu algum grau de tratamento médico, enquanto só uma mordida levou a uma internação no hospital. Os homens eram duas vezes mais propensos a reportar uma mordida do que as mulheres, e donos de cachorro tinham três vezes mais probabilidade. Mas pouco mais da maioria das mordidas, 55% para ser mais exato, aconteceu com pessoas que nunca haviam visto o cachorro antes do incidente.

Outro padrão encontrado foi que as pessoas que eram menos estáveis emocionalmente e mais ansiosas também estavam mais propensas a serem mordidas. Para cada queda em uma medição de neuroticismo em uma escala de um a sete (sete sendo a mais estável), o risco associado de uma mordida sofrida na vida cresceu em 33%.

“Este estudo demonstra que as mordidas de cachorro mais severas, de maior significância em saúde pública, são, por sorte, uma pequena proporção das mordidas em geral que acontecem”, escrevem os autores. Mas eles também apontaram que é “essencial que fatores de risco previamente supostos seja reavaliados, já que esse estudo revelou que crenças antigas, como a de que as mordidas normalmente sejam de cachorros conhecidos, estão sendo contestadas”.

O estudo é um dos poucos a tentar descobrir com que frequência os cães mordem as pessoas, sem ter que contar com registros hospitalares. Eles descobriram que, se o número de mordidas relatadas na cidade no ano passado (13) fosse extrapolado para a população geral do Reino Unido, ele chegaria a 18,7 mordidas a cada mil pessoas anualmente. Esse número é muito maior do que estimativas oficiais, quase três vezes mais alto do que a quantidade frequentemente citada de 7,5 mordidas a cada mil pessoas no Reino Unido.

Embora esse estudo tenha sido baseado em uma amostra de população pequena, suas descobertas se alinham com outras pesquisas. Nos Estados Unidos, o risco de uma mordida de cachorro parece ser tão comum quanto no Reino Unido.

“Na verdade, descobrimos taxas de ocorrência de mordidas de cachorros muito parecidas com as de estudos anteriores nos EUA, e é provável que as causas das mordidas de cães tenham muitas similaridades entre o Reino Unido e os Estados Unidos, assim como existem semelhanças nas maneiras como os cachorros são mantidos como animais de estimação”, contou a autora do estudo, Carri Westgarth, epidemióloga em Liverpool, em entrevista ao Gizmodo.

Conexão ainda sem explicação

O estudo não conseguiu revelar por que a conexão entre mordidas de cachorro e pessoas ansiosas existe, embora Westgarth e seus colegas tenham suas teorias. Já que as pessoas frequentemente relataram ter sido mordidas mais de uma vez, e por muitas mordidas terem ocorrido na infância, é possível que alguém que tenha sido mordido logo cedo na vida tenha crescido mais ansioso, admitiu Westgarth.

“Também é plausível que pessoas com tipos diferentes de personalidade se comportem de maneira diferente perto de cães. Os cachorros acham certos comportamentos humanos ameaçadores e estressantes, respondendo, então, com agressão”, disse. “Também existe uma sugestão de que pessoas nervosas e ansiosas são mais propensas a terem cães nervosos, seja adquirindo cachorros com personalidades parecidas ou por meio de efeitos de seu comportamento um sobre o outro.”

“Nós realmente não sabemos o que está levando a essa associação neste momento, e a descoberta também precisa de confirmação de outros estudos para sabermos se foi um resultado pontual”, acrescentou.

O que fazer

Se ansiedade e outros fatores de risco, como ser homem, de fato são um gatilho para mordidas de cães, então isso poderia levar a iniciativas educacionais mais apropriadas para grupos de risco específicos, como homens, crianças e aqueles menos estáveis emocionalmente, disse Westgarth.

É claro, existem vários passos de prudência que donos de cães e seus admiradores podem seguir para diminuir o risco de uma mordida.

“Eles incluem: pegar cães que tenham pais com bom temperamento; socializar o cão desde o nascimento com uma variedade de pessoas e situações que ele provavelmente vá encontrar ao longo da vida; aprender a interpretar os sinais sutis de que um cachorro pode estar se sentindo desconfortável e estressado e que podem levar a uma mordida; e, mais importante de tudo, ser sensível sobre como o cão é criado e supervisionado”, disse Westgarth. “Por exemplo, não assustar um cachorro quando ele está dormindo, alimentar um cão separadamente e deixá-lo comendo em paz e nunca deixar cachorros e crianças juntos sem supervisão.”

“Tendemos a pensar que ‘não aconteceria comigo’ ou que ‘meu cachorro não morderia’, mas todos os cachorros podem (morder), e precisamos ser realistas para administrar situações de forma que eles nunca sintam a necessidade de morder”, acrescentou.

 

fonte: Gizmodo Brasil e BMJ
konrad lorenz psicologia experimental etologia ciencias ethos animal comportamento animal

Psicologia experimental e etologia investigam comportamento animal

Especialista fala sobre livro, pesquisa na USP e relações entre as áreas de psicologia experimental e etologia

psicologia experimental e etologia Jerry Hogan 01
Livro de norte-americano que foi pesquisador visitante da USP aborda comportamento de animais sob o ponto de vista dos dois campos de conhecimento. Na imagem, gansos-de-faces-brancas em migração sazonal – Foto: Wikimedia Commons

.
Escrever um livro que integrasse os vários campos de estudo do comportamento, especialmente a etologia e a psicologia experimental, numa linguagem básica comum foi um sonho acalentado por mais de 50 anos pelo etólogo americano Jerry Hogan, professor emérito do Departamento de Psicologia da Universidade de Toronto, Canadá.

Quando em 2009 o também etólogo César Ades (1943-2012), diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP à época, convidou o colega americano a apresentar um projeto para ser professor visitante do Instituto, Hogan decidiu aproveitar a oportunidade para finalmente escrever o livro. Lançado em novembro pela Cambridge University Press, o livro Study of Behavior – Organization, Methods and Principles é o resultado da estada do pesquisador no IEA de agosto de 2013 a julho de 2015.

Durante visita a São Paulo na primeira semana de 2018, Hogan concedeu entrevista ao IEA sobre o livro e sobre as várias mudanças no estudo do comportamento nas últimas décadas. A seguir, a tradução editada da entrevista.

psicologia experimental e etologia Jerry Hogan 02
O etólogo americano Jerry Hogan, ex-professor visitante do IEA – Foto: Sandra Codo/IEA-USP

IEA – Sua ideia de escrever um livro relacionando o que há de comum entre a etologia e a psicologia experimental surgiu há mais de 50 anos, quando de seu pós-doutorado na Holanda. Desde então as duas disciplinas se transformaram e surgiram outras relacionadas a elas, aumentando ainda mais a fragmentação do conhecimento. Nesse sentido, pode-se dizer que foi melhor que tenha escrito o livro agora e com isso poder relacionar todos os antigos e novos campos de estudo?

Hogan – Naquela época, a grande discrepância aparente entre a etologia e a psicologia experimental era a ideia de que os etólogos observam os animais e seu entorno natural e os psicólogos observam o comportamento no laboratório. Além disso, os etólogos se preocupam com o que muitos chamam de comportamento instintivo e os psicólogos atentam para o aprendizado. De certa forma, eles são diferentes, mas se pensamos em termo de ‘doutrina’, o psicólogo e o etólogo são bastantes similares, pois ambos tentam entender como os animais se comportam. Desde então, os dois campos mudaram dramaticamente. A etologia tornou-se muito mais ecológica e interessada em diferentes tipos de explicações evolucionistas. A psicologia foi de interessada na resposta ao estímulo a algo muito mais cognitivo. Os psicólogos compreenderam que alguma coisa acontece no cérebro entre o estímulo e a resposta a ele. Os dois campos originais se tornaram bem maiores e mudaram de muitas maneiras. Uma das coisas que descobri é que muitas pessoas sentiam que as ideias antigas estavam todas erradas, que tudo deveria ser considerado de uma nova maneira. Mostrar que isso não é verdade é uma das coisas que espero que meu livro faça, pois é quase um livro histórico, que examina todas as ideias antigas, as modifica e tenta mostrar o que é mais relevante para o tipo de coisa que as pessoas estão fazendo atualmente.

A psicologia foi de interessada na resposta ao estímulo a algo muito mais cognitivo. Os psicólogos compreenderam que alguma coisa acontece no cérebro entre o estímulo e a resposta a ele.

IEA – O senhor diz no prefácio que não se trata de um livro de curso normal, pois não procurou fazer uma revisão da literatura relevante, mas sim uma monografia com suas ideias sobre vários aspectos do comportamento. De qualquer modo, o resultado atingido pode ser considerado uma concepção de como deve se dar a formação de um pesquisador do comportamento?

Hogan – Penso que sim. O livro apresenta o comportamento como penso que ele possa ser melhor entendido, de forma que todo mundo possa pensar sobre ele. Apresento outras ideias e mostro como minhas ideias poderiam ser usadas para interpretar os mesmos tipos de dados sobre os quais as pessoas estão falando. Quando digo que não é uma revisão da literatura, quero dizer que não digo: “Há estas ideias sobre isso; esta é a minha e esta é a forma de compará-la com as outras”. Não é também uma revisão no sentido de eu apresentar exemplos em detalhes. O leitor pode ver como o experimento foi feito, como a conclusão foi atingida. O livro apresenta coisas relevantes, do tipo “A descobriu isso; B, aquilo; C, aquilo outro; isto é um bom experimento, estas são as ideias e foi assim que o experimento foi feito”. Penso que é um bom livro para ensinar as pessoas a entender o comportamento e mostrar como elas mesmas podem pesquisá-lo.

IEA – Quando o senhor fala de similaridades entre os campos de estudo do comportamento significa que eles tratam dos fenômenos de maneira parecida e chegam a conclusões próximas ou as abordagens são complementares?

Hogan – Os fenômenos são os mesmos: animais, inclusive pessoas, fazendo alguma coisa. Isso é comportamento. Como investigá-lo e como interpretá-lo. Niko Tinbergen, um dos fundadores da etologia, tinha uma lista de quatro diferentes tipos de questões que podem ser feitas: o que causa o comportamento, como ele se desenvolve, qual o seu valor para a sobrevivência e como ele evolui. Psicólogos em geral não estão interessados em valor para sobrevivência ou evolução. Muitos etólogos se tornaram interessados apenas em evolução e não mais nas coisas do comportamento. De fato, se você lê um livro de curso britânico sobre etologia, não encontrará quase nenhuma referência sobre o que antigos etólogos costumavam fazer, nem sobre coisas que os psicólogos e neurofisiologistas estão fazendo. Por outro lado, neurofisiologistas, que estão interessados em memória e coisas assim, não falam sobre como o comportamento evolui. Apresentam questões diferentes. Uma das coisas que Tinburgen disse muitos anos atrás é que se deve realmente olhar para os fenômenos de todas as diferentes maneiras, mas um psicólogo pode dizer que a evolução não é relevante para o estudo ou que é relevante, mas não se preocupará com ela. Não é necessária.

Um psicólogo pode dizer que a evolução não é relevante para o estudo ou que é relevante, mas não se preocupará com ela. Não é necessária.

IEA – De que forma sua estada no IEA e as interações com pesquisadores da USP contribuíram para a produção do livro?

Hogan – Eu dei um curso de psicologia na USP em 1977, quando conheci Cesar Ades. Continuamos a manter contato e estive novamente no Brasil em 2008 e 2009. Quando estava aqui, durante um almoço, Cesar me sugeriu que viesse para cá como professor visitante. Pensei que era uma boa ideia, mas eu tinha de ter um projeto. Como digo no prefácio, eu estivera pensando em escrever o livro por 50 anos. Eu sabia mais ou menos o que tinha de fazer para apresentar a proposta. Me aceitaram e comecei o meu livro. Foi uma continuação do meu contato com pesquisadores brasileiros. As condições oferecidas foram excelentes, principalmente o fato de que não incomodam você. Você senta na sua sala e ninguém bate na porta para pedir que faça alguma coisa. E se você precisa de ajuda, pede a alguém.

– Quais as perspectivas para o estudo do comportamento nas próximas décadas? Podem surgir novos campos de estudo a serem integrados aos já existentes?

psicologia experimental e etologia Jerry Hogan 03
Capa do livro de Jerry Hogan, Estudo de Comportamento – Organização, Métodos e Princípios – Foto: Reprodução / Cambridge University Press

Hogan – O que o livro pode fazer é reunir pessoas de diferentes campos, como neurofisiologia, ecologia do comportamento e neuropsicologia, que pensam de diferentes maneiras, devido às diferentes perspectivas, e permitir que usem uma linguagem comum. Acho que essa é a real importância do livro: definir um tipo de linguagem para falar sobre psicologia cognitiva, comportamento de ratos, evolução. Uso um vocabulário básico que se aplica a todos esses campos. Não é muito diferente do que outras pessoas estão fazendo. Você tem de se especializar no que está fazendo no laboratório ou em um estudo particular, mas deveria estar pensando nas coisas em termos de um quadro amplo.

IEA – Depois do esforço de produção do livro, pretende iniciar algum novo projeto ligado ao estudo do comportamento?

Hogan – Estou pensando nisso. Tenho colaborado com pesquisas experimentais de outras pessoas. Elas estão fazendo o trabalho de laboratório. Não tenho estado num laboratório há muito tempo. Não estou realmente observando animais, mas colaboro nas discussões de base sobre os experimentos. Mas tenho de dizer que ao escrever o livro eu aprendi bastante. Os capítulos tratam de diferentes áreas. O que me surpreendeu é que algumas ideias de uma área são muito similares às de outra e eu nunca tinha pensado a respeito dessas relações. Se eu tiver ânimo, escreverei sobre elas.

Mauro Bellesa / Divisão de Comunicação do IEA
Fonte:  Jornal da usp, ciências, 10/01/18

A importância de brincar com seu cão: uma abordagem científica

importancia de brincar com seu cão ethos animal comportamento bem-estar
A interação social durante a brincadeira é importante para o bem-estar dos cães. Foto: Google

 

Você dedica algum tempo para brincar com seu companheiro?

A importância de brincar com seu cão: uma abordagem científica

As causas pelas quais os animais brincam ainda são motivos de estudos sobre o comportamento animal e as possíveis consequências para seu bem estar. O brincar está amplamente distribuído nas espécies animais, e não só os animais domésticos executam essa curiosa atividade. As brincadeiras aparecem em espécies com habilidades motoras e cognitivas complexas, sendo mais frequentes durante o desenvolvimento juvenil.

Podemos definir esse comportamento como voluntário, repetitivo, ocorrendo em situações que não envolvam risco. Entretanto, essa condição incorre em custos energéticos, tempo, possível exposição a injúrias, doenças e predadores, sendo exatamente estes últimos aspectos que ressaltam a presente dúvida.

As brincadeiras podem servir para diferentes funções de acordo com a espécie, idade, meio ambiente, status social e reprodutivo do nosso animal. Para o cão devemos também considerar os aspectos relacionados à sua domesticação, que se originou de uma associação com mais de 10.000 anos.

Além das questões relacionadas à função desse comportamento, temos nos perguntado se há também benefícios sobre o bem estar do animal. Para tanto, vamos relacionar as principais teorias que tentam explicar as funções do brincar nessa espécie tão querida. Vamos a elas:

– desenvolvimento de habilidades motoras

Brincar pode servir como uma preparação para o comportamento social adulto, por exemplo: eles aprendem a controlar a pressão de sua mordida sem causar danos ao parceiro. Podemos considerar que este treinamento dá também condições para um desenvolvimento cerebral privilegiado. Outro ponto seria um possível período sensível para a realização deste comportamento – este tópico não tem sido estudado, apesar de que sabemos que a taxa de brincadeiras diminui com o passar do tempo.

– treinamento para o inesperado

Essa explicação considera que esse comportamento melhoraria as habilidades sensoriais e locomotoras requeridas no caso de um evento inesperado, logo somente espécies com capacidades cognitivas mais complexas podem apresentar essa atividade. E não podemos esquecer que as brincadeiras dos cães, especialmente com humanos envolvidos, diminuem os hormônios relacionados ao estresse.

– coesão social

Essa teoria sugere que esse comportamento fortalece as relações sociais aumentando as chances de sobrevivência e reprodução. É importante lembrar que o cão é uma espécie que vive em grupo, e os tipos de brincadeiras que os cães executam conosco refletem essa natureza. Eles são menos competitivos e possessivos com seus brinquedos, e mais interativos durante suas brincadeiras com humanos, preferindo brincar com uma pessoa conhecida.

– brincar como um subproduto de processos biológicos

Ao invés de possuir uma função única, esse comportamento pode ser uma espécie de subproduto de outros processos biológicos. Durante a domesticação podemos ter selecionado diretamente ou indiretamente a retenção de comportamentos juvenis para a vida adulta dessa espécie.

Implicações das brincadeiras para o bem estar animal

Vamos pensar inicialmente num animal brincando solitariamente (situação que pode ser comum na sua casa quando você sai para trabalhar). Esse comportamento pode melhorar as capacidades desse animal (físicas e cognitivas), portanto seu bem estar. Contudo, se lembrarmos que esse animal é uma espécie gregária, então o ato de brincar pode ser uma tentativa de lidar com um meio pouco estimulador. Esse comportamento pode servir, nessa condição, como uma válvula de escape, já que nessas condições de manutenção podemos observar uma limitação severa de espaço e também social, que pode culminar numa condição de estresse.

A perseguição da cauda, um exemplo comum, que o animal executa como uma forma de seu comportamento normal, quando juvenil, pode indicar uma condição de subestimulação que reduzirá seu bem estar, e que pode culminar com o desenvolvimento de comportamentos anormais repetitivos. Portanto, essa condição (brincar sozinho) proporciona ao animal uma oportunidade para enriquecer um meio com pouca estimulação, e se ocorre em altas taxas pode indicar um prejuízo nas condições de seu bem estar. Logo, entreter seu cão, brincando com ele diretamente, e não deixá-lo brincar sozinho é uma forma de melhorar seu bem estar.

Portanto, é fundamental que você se envolva em atividades com seu cão, não pense que deixando brinquedos para ele utilizar sozinho seja uma estratégia adequada para melhorar seu bem estar. Com certeza é você o parceiro para brincadeiras que seu cão deseja.

 

Mais informações:
Why dogs play? Function and welfare implications of play in the domestic dog.
Applied Animal Behaviour Science 197: 1-8, 2017.

 

Gelson Genaro
Médico veterinário formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Jaboticabal (SP), com mestrado e doutorado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP em Fisiologia. Professor da disciplina Bem Estar Animal, no Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto (SP)